“O específico da situação atual, sem o que ela não ganha inteligibilidade, se encontra no fato de importância capital de que, desta vez, o controle da crise não tem como ser exercido apenas pelos políticos, debalde os apelos à concórdia dos bem-intencionados. Fora da arena propriamente política, faz-se presente um tertius, o Poder Judiciário e o conjunto de instituições constitucionalmente criadas a fim de exercer controle sobre a administração pública, como, entre outras, o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal, instâncias formalmente autônomas da política e que, nestes 27 anos de vigência da Carta de 1988, têm forjado uma cultura própria. Neste mundo de direitos, princípios e interpretações hermenêuticas, Maquiavel, soberano indiscutível entre os políticos, não entra. Salvo, é claro, pela porta dos fundos.
Aconteça o que acontecer, nada passará ao largo da política. A proteção de valores e princípios, que nos custaram tanto a afirmar, mais a preservação do que já foi conquistado nesta devassa ainda em curso, está reclamando que se tire logo o Maquiavel do armário.”
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*Luiz Werneck Vianna é sociólogo da PUC-Rio, em artigo ‘Antagonismos em Desequilíbrio’. O Estado de S. Paulo, 2 de agosto de 2015.
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