• Petista ainda cumpre pena pela condenação no mensalão e pode perder benefício do regime domiciliar
Por Alan Gripp –O Globo
RIO - José Dirceu não é a sombra do que foi, mas sua nova prisão, ainda que fosse a bola mais cantada no mundo político atual, tem consequências significativas, no curto e médio prazos.
A principal delas é política. Os investigadores disseram estar convencidos de que o esquema de corrupção na Petrobras nasceu no primeiro governo Lula e era a repetição do mensalão. Em ambos os casos, segundo os procuradores da Lava-Jato, Dirceu foi o principal estrategista, preenchendo postos-chaves para a engrenagem dos esquemas.
Como se sabe, no mensalão os recursos desviados foram usados na compra do apoio da base aliada no Congresso. Na Lava-Jato, os recursos foram drenados para campanhas eleitorais e, aqui e ali, para os bolsos de alguns — Dirceu entre eles, aponta a investigação.
Ainda que existam diferenças, a comparação tem o poder de deixar uma mancha na era Lula e enfraquece a tese, já em desuso, de que o ex-presidente desconhecia as negociações não republicanas de sua administração. E mais: em tom enigmático, os procuradores sugeriram que Lula, ele próprio, integra a lista de investigados da Lava-Jato.
Tudo isso pode insuflar os protestos contra Dilma Rousseff, marcados para o dia 16 de agosto. Esse é o maior temor dos dirigentes petistas. As manifestações anteriores já haviam se notabilizado pelo caráter antipetista, extrapolando a insatisfação contra a presidente. A depender da adesão, os atos podem deixar ainda mais vulnerável o governo, que vai encarar, fragilizado, o retorno de um Congresso frenético.
A prisão de Dirceu também tem consequências jurídicas para ele próprio. Sua situação é bem mais complicada do que a de outros alvos da Lava-Jato. O petista ainda cumpre pena pela condenação no mensalão e ganhou da Justiça o chamado benefício de progressão do regime, deixando a cadeia para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar. Agora, é possível que, provocada pelo Ministério Público, a Justiça reveja esse benefício.
Pesa contra Dirceu o fato de que parte dos pagamentos recebidos do lobista Milton Pascowitch foi feita no período em que ele estava preso. Segundo o próprio Pascowitch, trata-se de propina. Portanto, em tese, Dirceu não tinha exatamente o "bom comportamento" que o levou para casa.
Também é certo que o passado do mensalão terá impacto numa eventual futura condenação do petista na Lava-Jato, quando o seu histórico será levado em conta.
É bom lembrar que a prisão ocorre ao mesmo tempo em que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, justamente o operador alçado ao cargo por Dirceu, em 2004, também negocia um acordo de delação premiada. Não sem razão, a notícia desta negociação reforçou o sentimento de pânico em Brasília.
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