• Objetivo é impedir pautas-bomba e processos de impeachment
Depois do encontro em Brasília, presidente da Câmara, rompido com Dilma desde julho, voltou a criticar Planalto pela falta de plano B
O ex-presidente Lula se encontrou ontem com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que em julho rompeu com a presidente Dilma, para pedir ajuda para o governo. A preocupação principal de Lula é conseguir impedir o avanço das pautas-bomba e dos processos de impeachment da presidente, além de aprovar o ajuste. Cunha negou o encontro, confirmado por aliados dele e integrantes do governo.
Lula encontra Cunha e pede que ajude o governo
• Ex-presidente também defende que Dilma se reaproxime do PMDB e que partido volte à articulação política
Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Catarina Alencastro, Cristina Tardáguila e Isabel Braga - O Globo
- BRASÍLIA- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula procurou ontem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), que está rompido com a presidente Dilma Rousseff desde julho, para pedir ajuda para o governo. Em sua passagem de dois dias por Brasília, Lula teve seguidas conversas para tentar melhorar a situação política do governo no Congresso. A reaproximação com o PMDB está no cerne da articulação defendida por ele. A preocupação principal de Lula é conseguir aprovar o ajuste fiscal e impedir o avanço das pautas-bomba e dos processos de impeachment que tramitam no Congresso.
Nesse esforço, Lula se encontrou ontem às 7h reservadamente com Cunha — visto no Planalto como o maior problema do governo no Congresso. O presidente da Câmara negou que tenha encontrado Lula, mas tanto interlocutores do Planalto, quanto aliados de Cunha confirmam que o encontro ocorreu no hotel onde o ex-presidente se hospedou em Brasília. A assessoria de Lula, por sua vez, disse que não poderia confirmar a agenda.
Mais tarde, já no Rio, Cunha criticou o governo por conta do ajuste e sugeriu que, em vez de propor a retomada da CPMF, faça cortes nos programas sociais:
— Há programas sociais que subiram de custo, que a aplicação subiu muito sem analisarmos um ano antes da eleição e agora. O governo quer manter o mesmo nível de investimento nesses programas. Então, não tem sentido pedir imposto à sociedade para financiar isso. Em vez de querer colocar um imposto temporário, deveria cortar temporariamente o gasto.
Cunha classificou a falta de um “plano B”, reconhecida pelo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Edinho Silva, como uma “mensagem ruim”.
— Mostra que você não tem alternativa, mas sempre tem. Quando uma empresa gasta mais do que arrecada, demite, para de vender, entrega o escritório, pede falência. O Estado não pode fazer isso. Tem que chegar e se limitar. Se tenho gastos, investimentos ou programas sociais que faço em função da minha arrecadação, não posso fazer isso me endividando. É impossível não ter um plano B. Tem que ter.
“Ou abraça o urso, ou morre”
Depois do encontro com Cunha, Lula foi às 8h conversar com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a quem criticava por minar as relações com o partido do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Na reunião que manteve com ministros, na noite de quinta- feira, Lula defendeu que Dilma prestigie o partido do seu vice- presidente. Na avaliação de Lula, sua sucessora deveria, antes de anunciar a reforma ministerial, que implicará redução do número de pastas, chamar todos os partidos aliados para uma negociação e não apenas para avisálos das mudanças. Ele também pregou que o PMDB volte à articulação política do governo.
— Ou abraça o urso, ou morre — disse um amigo de Lula que participou das conversas.
Nas conversas que manteve, Lula ouviu que o clima no Congresso é o pior possível para o governo, com pouca chance de aprovação da CPMF, e que a relação política está muito deteriorada, o que dificulta mais a chance de Dilma conseguir emplacar o pacote sem fortes mudanças.
Um dos parlamentares que estiveram com Lula relatou ao GLOBO que ele afirmou concordar com a essência do pacote, mas que tem muita preocupação com o “ânimo” dos parlamentares em aceitar aumento de impostos e projetos como o que congela o reajuste dos servidores.
Lula disse a aliados que sabe a pressão a que todos estão submetidos, mas que o ajuste precisa ser entendido como a alternativa de superar a crise e projetar uma melhora do quadro político e econômico para os próximos anos. E avaliou que é preciso reorganizar a relação com os partidos que dão sustentação ao governo. Ele defendeu que Dilma use a redução de ministérios e a reforma para “fidelizar” seus votos no Congresso. Apesar de estar incomodado com o fato de não ter sido avisado previamente sobre o conteúdo do pacote fiscal e insatisfeito com a atuação da sucessora, Lula busca ajudar para tentar melhorar o cenário atual.
Críticas a Mercadante
Ontem, o ex-presidente também conversou com Dilma e participou de uma reunião com ministros do PT, sem a presença de Mercadante, para conversarem sobre os rumos do governo e os desacertos políticos. Ele está incomodado com a falta de poder nas decisões em um momento tão delicado. Um aliado do expresidente contou que Lula reclama que Dilma o escuta, mas não ouve de fato o que diz. Aos petistas, o ex-presidente disse que concorda com a recriação da CPMF, mas discorda da condução da política econômica. Chamou-a de “errática” e avaliou que o Planalto e a equipe econômica precisam achar uma forma de proteger as camadas mais pobres. De forma enfática, Lula disse que o governo precisa construir o “pós-ajuste”, uma agenda de retomada do crescimento, e cobrou os ministros:
— Você diz para a pessoa que ela vai ter que tomar um remédio amargo, e ela até aceita, mas vai perguntar: “Tudo bem, mas se eu tomar eu vou sarar?”. Temos que começar a construir a proposta de retomada, com política de crédito, financiamento de longo prazo do setor produtivo.
Ele citou a economia americana, lembrando que veio a crise, mas foram sinalizadas medidas positivas. Lula lembrou que já se reuniu com as centrais sindicais e disse que querem colaborar.
O ex-presidente também fez fortes críticas a Mercadante, apesar de Dilma ter deixado claro que não irá tirá-lo da Casa Civil. Lula acredita que ele “não tem condições de permanecer no cargo” porque o principal aliado, o PMDB, não aceita interlocução com ele. E avaliou que Mercadante “blinda” Dilma de más notícias, criando uma redoma. Só depois de a presidente avisar que Mercadante ficaria no cargo é que Lula o encontrou.
Além das críticas a Mercadante, Lula centrou fogo em outro ministro petista, José Eduardo Cardozo ( Justiça). Repetiu que ele perdeu o controle sobre a Polícia Federal e sobre as informações relacionadas à Lava-Jato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário