• Desentendimento entre Pedro Paulo e ex-mulher cria crise na campanha; prefeito tenta minimizar
Cássio Bruno - O Globo
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), tomou para si a missão de tentar debelar a maior crise que se abateu sobre seu núcleo político até agora, em meio aos preparativos para as eleições municipais do ano que vem: as supostas agressões físicas do secretário executivo de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho, contra a ex-mulher Alexandra Mendes Marcondes. Buscando minimizar os danos à imagem pública do amigo, Paes ignora e desafia a Justiça Eleitoral pedindo votos em inaugurações de obras e eventos da prefeitura — o que é proibido pela legislação.
Não será fácil reverter a péssima repercussão do episódio. A notícia da briga do ex-casal caiu como uma bomba na prefeitura e abalou os alicerces do PMDB. Cogitou-se até a troca do candidato — que foi negada pela cúpula do partido. Paes, por sua vez, vem atuando nos bastidores para estancar o problema. O prefeito procurou todas as lideranças dos partidos que o apoiam para explicar a situação. E uma equipe monitora os estragos por meio de pesquisas e nas redes sociais.
Servidores e assessores estão proibidos de comentar o assunto em público. Deputados e vereadores foram às tribunas defender Pedro Paulo. No entanto, na última quinta-feira, na Candelária, durante um protesto de mulheres contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aliado de Paes e Pedro Paulo, manifestantes exibiam faixas com a frase: “Cunha e Pedro Paulo, inimigos das mulheres”. Ouviu-se ainda palavras de ordem contra os dois.
Chutes, socos e agarrões
A briga do ex-casal aconteceu em 6 de fevereiro de 2010, mas só se tornou pública há duas semanas após reportagem da revista “Veja”. No depoimento à polícia, Alexandra conta em detalhes a confusão. Segundo ela, Pedro Paulo a teria agredido com socos, chutes e agarrões no pescoço. Um de seus dentes foi quebrado. A empregada do casal teria testemunhado as agressões.
De acordo com Alexandra, no depoimento à polícia, a briga foi provocada porque ela encontrou indícios de traição de Pedro Paulo no apartamento que eles dividiam à época. Alexandra chegou de viagem sem avisar ao então marido. Ela disse ter encontrado cabelos longos no ralo do chuveiro e na cama, um sutiã que não era seu embaixo da mesa da cozinha e duas taças de vinho. Quando Pedro Paulo chegou em casa vindo de um compromisso em Brasília, Alexandra pediu o divórcio. Teria sido o estopim para as agressões começarem.
“Ele (Pedro Paulo) aplicou na declarante (Alexandra) um violento soco, que atingiu seu olho esquerdo. Que, depois, Pedro Paulo deu um outro soco que atingiu a sua boca, vindo a quebrar um dente, lesão esta que sangrou”, diz um dos trechos do registro de ocorrência feito por Alexandra na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Jacarepaguá, na Zona Oeste.
O GLOBO também obteve os laudos dos exames de corpo de delito de Alexandra e de Pedro Paulo feitos no Instituto Médico-Legal (IML), que confirmaram que ela sofreu agressões. No documento, o pré-candidato do PMDB à prefeitura alega ter sido agredido com arranhões e objetos jogados nele pela ex-mulher.
Pedro Paulo nunca foi ouvido pela polícia. Após quase seis anos, a investigação não andou. Ao GLOBO, a chefia da Polícia Civil informou, na última sextafeira, que determinou que a Corregedoria Interna apure se o tempo de apuração foi justificado ou não pela Deam.
O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público e está nas mãos do procurador-geral de Justiça Marfan Martins Vieira, que decidirá se o caso vai ou não para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já que Pedro Paulo é deputado federal licenciado e tem direito a foro privilegiado.
Desde então, Alexandra se mudou para São Paulo e não foi localizada. Sua mãe informou ao GLOBO que ela na o daria entrevista. Pedro Paulo também não quis falar, alegando que a ex-mulher registrou, em cartório, uma carta na qual diz que “tudo foi invenção minha num momento de desespero do fim do relacionamento conturbado”. No documento, Alexandra afirma que o episódio já “está superado”.
Mas não para Eduardo Paes. Em ritmo de campanha, o prefeito busca reverter o quadro. Só em outubro, ao lado de Pedro Paulo, Paes entregou um reservatório de águas pluviais e inaugurou obras de urbanização na Zona Oeste e da expansão do Parque Madureira; participou ainda do início da construção de uma clínica da família, entre outros compromissos. Num deles, no domingo passado, declarou:
— Está aqui o futuro prefeito do Rio, Pedro Paulo. Até que a Justiça Eleitoral me impeça, vou mesmo continuar pedindo votos.
Com a minirreforma eleitoral, a campanha só começa oficialmente em 15 de agosto do ano que vem, com duração de 45 dias e não mais 90. Nesse caso, Eduardo Paes está sujeito a ser multado pelo Ministério Público.
Em nota sobre a briga divulgada na última sexta-feira, o prefeito afirmou: “É um tema da vida privada, já superado e esclarecido, que não atrapalha a candidatura. Eu e o PMDB seguiremos fazendo campanha para o Pedro Paulo, que é definitivamente o melhor para o Rio e quem melhor representa as conquistas do partido na cidade. O resto é fofoca de adversários que já perceberam a força da candidatura de Pedro Paulo, que vencerá as eleições”.
Na busca pelos votos para Pedro Paulo, vale até convocação da prefeitura para inauguração de obras por telemarketing, exposições do secretário na TV e agendas relacionadas aos Jogos Olímpicos. Tudo para torná-lo mais conhecido do eleitorado carioca.
Agenda de candidato
Em outra frente, Pedro Paulo já tem agenda de candidato. Sua equipe é comandada pelo marqueteiro Renato Pereira, o mesmo que ajudou a eleger Paes e o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), por duas vezes, e o atual governador Luiz Fernando Pezão. Pereira é um dos sócios da Prole, uma das três agências que, em março deste ano, ganhou uma licitação de R$ 150 milhões para cuidar da publicidade da prefeitura. A Prole já faz gravações de Pedro Paulo para a campanha eleitoral.
— A briga é ruim porque o Pedro Paulo está tentando decolar. Ele ainda não é conhecido. É negativo para quem quer apresentar uma boa imagem. Certamente, será algo sensível ao eleitorado feminino. A sorte dele é que ainda estamos longe da campanha. Ele vai precisar ter cuidado para que isso não inviabilize a candidatura. Se tem laudo do IML, fica mais difícil desmentir essa briga — diz Ricardo Ismael, professor e cientista político da PUC-RJ.
Gabriela Serra, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Eleitorais do Ministério Público, não foi localizada para comentar sobre a fiscalização em relação ao prefeito. Em nota, a assessoria de imprensa do MP disse que o fato envolvendo Eduardo Paes será encaminhado a um promotor eleitoral “para adoção das medidas que entender cabíveis”.
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