- Estado de S. Paulo
A oposição se movimenta e mantém a pressão para a deflagração de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, mas na realidade nua e crua não alimenta a ilusão de que consiga atingir o objetivo sem o forte engajamento da população.
“O Congresso funciona de fora para dentro”, constata o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, para quem o processo ainda não está suficientemente maduro na sociedade ao ponto de levar o Parlamento a um consenso sobre a utilidade e a necessidade de interrupção do mandato presidencial.
Na opinião dele, a permanência de Dilma depende de dois fatores: o cenário econômico e as investigações da Lava Jato. Se a economia piorar, a presidente, que já perdeu a classe média, perderá o apoio da base e do pico da pirâmide social. Os mais pobres, atingidos pela inflação e o endividamento; os mais ricos, porque perdem dinheiro com a paralisia e a piora das condições econômicas.
No tocante à Lava Jato, as informações serão cada vez mais divulgadas à medida em que o Tribunal Superior Eleitoral pedir o compartilhamento das investigações para tocar a apuração sobre irregularidades no financiamento da campanha à reeleição de Dilma em 2014. Se ficar provado que houve contaminação por dinheiro desviado da Petrobrás, estarão postos os pressupostos de crime.
Voltando à economia, Aécio argumenta que, na hora em que a “vida real” se conectar de maneira definitiva ao universo dos maus indicadores e das agruras do mundo político, a opinião pública pode reagir com manifestações que estas sim, ditarão o rumo dos acontecimentos.
Na ocasião em que o então presidente Fernando Collor enfrentava a possibilidade de um impeachment, o presidente da Câmara à época, Ibsen Pinheiro, disse uma frase que traduz a linha de raciocínio do senador tucano: “Esta Casa faz o que o povo quer”. Há 23 anos, o Congresso seguiu o dito. Hoje aguarda para ver se as ruas vão dizer o mesmo. Por ora, de maneira expressiva e inquestionável, ainda não disseram.
Por isso, o debate e o embate ainda se dão no âmbito do ambiente político. Neste, ninguém se arrisca a apostar nesse ou naquele desfecho, embora cada um faça o seu jogo. O PMDB adoraria ver Dilma impedida, de forma a assumir a presidência na pessoa do vice Michel Temer. Da oposição não se pode dizer o mesmo. A palavra da boca para fora é favorável ao impeachment ou à renúncia. O sentimento nas internas, porém, é um tanto diferente.
Não interessa de verdade ao PSDB um governo de transição comandado pelo PMDB. Pelo seguinte: os tucanos estariam obrigados a se associar a Temer e a assumir a agenda do PMDB que não seria necessariamente a pauta do PSDB. Os tucanos ficariam “engessados” e sem possibilidade de se colocar como oposição para a disputa de 2018.
Além disso, quanto mais o tempo passa, menos o afastamento de Dilma interessa à oposição porque o tempo de um eventual governo “tampão” – seja pela substituição pelo vice ou por nova eleição, no caso de impugnação da chapa _ seria curto demais para que fossem alcançados resultados positivos na economia a fim de render benefício eleitoral em 2018.
De onde se conclui que o mais interessante à oposição continua sendo a manutenção do calendário tal como está. Inclusive para que o PSDB possa colocar em prática, no pleito municipal de 2016, a retomada do fio da meada de 2014 para dialogar com o eleitorado com base nas palavras de ordem “nós tínhamos razão”.
Discurso que estará prejudicado se amanhã a oposição de hoje for situação. Cenário desenhado, por ser derrubado pela manifestação da opinião do público.
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