Mauro Paulino, Alessandro Janoni – Folha de S. Paulo
É improvável que os dados divulgados neste domingo (29) configurem uma trégua, mesmo que temporária, da opinião pública na reprovação da presidente Dilma Rousseff, taxa que cresceu 47 pontos percentuais ao longo de 2015.
O recorde negativo, conquistado em agosto e mantido em alto patamar agora, apesar de oscilações positivas, continua comparável apenas ao de Collor às vésperas da abertura do processo de impeachment. As crises política e econômica e as revelações da Lava Jato minaram a confiança dos brasileiros na viabilidade do país.
O pessimismo majoritário sobre a inflação e o desemprego associado à ideia cada vez mais presente no imaginário da população de que o Brasil é dominado pela corrupção –pela primeira vez apontada como principal problema do país– configura o balanço final do ano pós-reeleição da petista. O quadro arranhou o legado lulista.
Mesmo entre os mais pobres e menos escolarizados, perfil predominante na base eleitoral do PT, a avaliação negativa do governo tem índices expressivos.
Nesses segmentos, a taxa de eleitores frustrados com Dilma, aqueles que a escolheram na última eleição mas agora a reprovam, supera a média em mais de cinco pontos percentuais. Até entre os que recebem Bolsa Família, 62% a veem como ruim ou péssima. O próprio ex-presidente apresenta desgaste em sua imagem. As denúncias do envolvimento de amigos e familiares em episódios suspeitos intensificou a tendência.
Menções a Lula como o melhor presidente da história caíram 11 pontos nos últimos sete meses e metade da população rejeita o seu nome para concorrer à Presidência em 2018 –um choque para quem encerrou o segundo mandato com 83% de aprovação.
O Congresso também sofreu um revés forte. Os vários capítulos da crise política, além da descoberta das contas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no exterior, refletiram na avaliação que os brasileiros fazem dos parlamentares. É uma das maiores taxas de reprovação da história.
Como parte da pesquisa foi realizada antes da prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), é bem provável que, se o campo se estendesse, a taxa superasse o recorde de 1993, de 56%.
Se os dados de hoje dão algum alento ao governo devido às oscilações positivas na avaliação da presidente, a manutenção da tendência depende de quanto 2016 conseguirá despertar a confiança dos brasileiros e reverter a onda de desesperança.
Em um ano, praticamente dobrou a expectativa pelo aumento do desemprego (de 39% para 76%) e por uma queda no poder de compra dos salários (34% para 67%).
Ambiente pessimista acompanhou também FHC em seu primeiro ano reeleito, quando mudou a política cambial, provocando a desvalorização do Real. Em dezembro de 1999, 66% dos brasileiros esperavam um aumento do desemprego e 67%, crescimento da inflação. As taxas diminuíram um pouco ao longo do ano seguinte, assim como a popularidade do tucano teve leve melhora.
Tais mudanças, porém, não foram suficientes para impedir um avanço importante da oposição, especialmente de candidatos do PT, nas eleições de 2000.
A permanência do clima atual em 2016 pode gerar efeito semelhante, mas com atores incertos, já que a crise de representação se agrava e há mais vácuo do que oposição aos olhos da opinião pública.
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