Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - Entre as incógnitas na equação da disputa pela Prefeitura do Rio, uma delas - se o senador Romário (PSB) apoiará o PMDB - não existe. É o que garante o presidente nacional do partido de Romário, Carlos Siqueira. De acordo com o dirigente, não há qualquer possibilidade de o PSB apoiar o pré-candidato do prefeito Eduardo Paes, o secretário municipal Pedro Paulo Carvalho, ou mesmo outro que venha a substituí-lo - nova incógnita da eleição depois que veio à tona acusações contra o braço-direito de Paes.
Siqueira afirma que o PSB terá candidato na eleição a prefeito do Rio do ano que vem, ainda que não seja Romário. O senador, ressalta, tem preferência por ser o presidente estadual da sigla e ter expressão eleitoral, mas o partido lançará um nome próprio. E, mesmo se não lançasse, a política de aliança não incluiria o PMDB. "Essa hipótese não existe", garante Siqueira, lembrando que tal coligação jamais seria convalidada pela direção nacional do PSB.
Um acordo entre Romário e Eduardo Paes, para apoio a Pedro Paulo, vem sendo aventado no debate sobre a sucessão à prefeitura da capital e foi um dos assuntos que apareceram na gravação que acabou por levar o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) à prisão na semana passada, no âmbito da Operação Lava-Jato.
A gravação foi feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que está preso desde janeiro. Na conversa, Delcídio propõe a Bernardo um plano de fuga para seu pai em troca do silêncio de Nestor Cerveró quanto à participação do senador petista no esquema de corrupção na estatal. Bernardo gravou a negociação por desconfiar de que o advogado do pai, Edson Ribeiro - também presente ao encontro - fazia jogo duplo e defendia mais os interesses de Delcídio do que de Cerveró, que não quer fugir e busca colaborar com a Justiça para ter a pena reduzida.
No início da conversa, ocorrida no dia 4, Delcídio justifica o atraso à reunião por ter recebido em seu gabinete, de última hora, Eduardo Paes, Pedro Paulo e Romário. O fato de os três estarem juntos é mencionado por Delcídio como algo surpreendente, mas que Paes lhe contara que tinha acabado de chegar a um acordo com Romário, para apoiar Pedro Paulo.
Na gravação, Edson Ribeiro sugere que a base da negociação teria sido a solução, dada por Paes, a um problema de Romário: uma suposta conta - não declarada à Receita Federal - que o senador teria na Suíça, com o equivalente a R$ 7,5 milhões em francos suíços. O dinheiro teria sido depositado no banco BSI, comprado em 2014 pelo BTG Pactual, que tem entre os sócios Guilherme da Costa Paes, irmão de Eduardo Paes.
Em julho, Romário foi alvo de uma denúncia na qual a revista "Veja" divulgou a existência da conta não declarada no exterior. Depois de viajar à Suíça, no entanto, Romário voltou ao Brasil com um documento no qual o banco atestava que o senador não tinha a alegada conta.
Na gravação, não fica claro como e se Eduardo Paes ou o irmão do prefeito teria ajudado Romário com o episódio da conta na Suíça, nem - se existiam - para quem teriam ido os R$ 7,5 milhões. Depois do estouro do escândalo com Delcídio, no entanto, Romário reconheceu pela primeira vez, em entrevista a "O Globo", ter tido uma conta no banco suíço: "Quando jogava na Europa, tive conta no BSI, só não sei o ano".
O senador - um dos favoritos na corrida municipal e que pode atrapalhar os planos de Paes de eleger o sucessor - diz que pode ser candidato, apoiar Pedro Paulo ou "ver o que vou fazer".
O presidente nacional do PSB, no entanto, descarta o apoio ao PMDB. "Se alguém cogitou isso, está fora do contexto", diz Carlos Siqueira. O dirigente afirma que todas as candidaturas e alianças do PSB, nas capitais e cidades onde há previsão de segundo turno, deverão ser homologadas pela cúpula nacional do partido. E pontua que a determinação de não se aliar ao PMDB não se estende a todos estes municípios. "É uma determinação para o Rio", diz.
Siqueira acrescenta que a decisão independe de quem concorrer pelo PMDB e não tem a ver com as denúncias recentes contra Pedro Paulo. O secretário agrediu a ex-mulher, entre 2008 e 2010, e, pelo abalo à sua imagem, pode ter a candidatura ameaçada.
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