• Presidente da Câmara espera conseguir votos petistas favoráveis a ele no Conselho de Ética
Daniel Carvalho e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A decisão sobre os principais pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff que estão sob sobre a mesa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), será usada como instrumento de pressão sobre o governo para tentas tornar favoráveis ao peemedebista os votos dos três integrantes do PT no Conselho de Ética da Casa.
Aliados de Cunha confirmaram ao Estado que ele não definirá o impeachment até que saia o resultado sobre o seguimento ou não de seu processo por quebra de decoro no Conselho de Ética que pode culminar na cassação do mandato. A votação sobre a admissibilidade da ação contra o deputado, apresentada pela Rede e o PSOL, está marcada para amanhã.
Governo e oposição acusam Cunha de mantê-los em “banho-maria” ao longo do ano sob a ameaça de abrir processo de impeachment. No último dia 18, às vésperas da sessão em que poderia ser lido o relatório favorável à admissibilidade do processo de cassação do presidente da Câmara, aliados de Cunha divulgaram que o peemedebista havia decidido deixar para 2016 qualquer definição sobre o impedimento de Dilma.
Oposicionistas afirmaram que a informação havia sido propagada em troca de apoio do PT. No dia seguinte, Cunha negou que tenha dado as declarações vazadas por ao menos dois deputados do PMDB.
Cunha nega que seu processo de cassação e o impeachment estejam relacionados. Mas admite que nem todos os sete requerimentos pelo afastamento de Dilma serão despachados hoje, antes da sessão do Conselho de Ética. Ao menos um pedido tem parecer técnico favorável ao processo de impedimento.
Análise. Cunha aproveitou a ressaca da Câmara por causa da prisão na quarta-feira do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), para analisar os pareceres. Continuou a estudá-los no fim de semana, mas minimizou a importância prática deles. “A decisão é sempre minha. A responsabilidade também”, afirmou ao Estado. O peemedebista chega a Brasília hoje pela manhã e deve conversar com assessores.
Na avaliação da oposição, ao anunciar previamente que pode deferir os pedidos de impeachment logo no início desta semana, Cunha coloca pressão sobre os petistas para que os três membros titulares do partido no Conselho de Ética revejam suas posições e ajudem a arquivar o processo disciplinar.
Na expectativa de atrair os votos petistas, aliados de Cunha dizem que ele não se manifestará hoje a respeito dos principais pedidos de impeachment, o do advogado Luis Carlos Crema e dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Tanto Crema quanto a dupla de juristas têm dois requerimentos protocolados, mas apenas um de cada é completo, incluindo a prática das “pedaladas fiscais”.
Contas. Deputados próximos a Cunha acreditam que o peemedebista tem hoje votos de nove dos 21 integrantes do conselho (20 votam; o presidente do colegiado manifesta-se apenas em caso de empate). Na conta dos aliados, são dois votos do PMDB, dois do PP, dois do PR, um do PSC, um do PSD e um do Solidariedade. O voto do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que disputou o comando do conselho com apoio de Cunha, ainda não é uma garantia. Interlocutores do peemedebista relatam que Sá se desentendeu com ele. Agora, sua tropa de choque corre contra o tempo para reconquistar o voto.
Se Cunha segurar o impeachment, apoiadores dizem que ele pode chegar a 12 votos favoráveis. Se soltá-lo em troca de apoio da oposição, acreditam que é possível atrair um voto do DEM e, talvez, do PPS, totalizando 11. Os dois votos do PSDB foram descartados, depois que o partido defendeu sua renúncia.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que os petistas não cederão à pressão. “Não vamos aceitar esse jogo. Princípios são inegociáveis”, afirmou. Os três representantes do partido no colegiado, Zé Geraldo (PA), Valmir Prascidelli (SP) e Léo de Brito (AC), já disseram que votariam pela admissibilidade do processo.
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