• Funcionários ameaçam cruzar os braços se não receberem salários atrasados hoje
Waleska Borges - O Globo
RIO - Hoje é um dia decisivo para que os serviços de limpeza, vigilância e fornecimento de alimentos não sejam paralisados de vez nas unidades de saúde da rede estadual. Os funcionários das empresas terceirizadas fixaram esta segunda-feira como a datalimite para receberem seus salários atrasados devido à crise no estado. Caso contrário, ameaçam cruzar os braços. Por sua vez, o governo garantiu que retomará o pagamento aos fornecedores, conforme havia sido prometido. O secretário estadual de Fazenda, Julio Bueno, confirmou que R$ 166 milhões começarão a ser pagos. O valor corresponde aos repasses do último dia 17, que foram adiados por falta de recursos, e aos do final do mês, outra data fixa para pagamentos.
Ontem, o clima entre os funcionários era de apreensão no Hospital Pedro Ernesto, da Uerj, em Vila Isabel. Oito copeiras faltaram ao trabalho. Já a limpeza era feita por apenas metade da equipe. Havia lixo acumulado no setor das crianças internadas em isolamento e nos corredores do segundo andar.
— O setor de isolamento onde ficam internadas as crianças está sujo. Tem lixo com fezes acumulado — disse uma funcionária da limpeza.
Um empregado que trabalha na cozinha contou que algumas pessoas receberam R$ 15 para a passagem:
— Estou há dois meses sem receber. A sorte é que tenho um outro emprego. Na sexta-feira, algumas pessoas receberam R$ 15 para passagem. Na segunda-feira (hoje), se o salário não estiver na minha conta, não piso neste hospital.
No Pedro Ernesto, os terceirizados são ligados à empresa Construir, de limpeza e coleta de lixo, que também presta serviços no prédio da Uerj, no Maracanã. As aulas na universidade foram suspensas na terça-feira passada, depois de a reitoria ter declarado que a situação era de insalubridade, por causa da descontinuidade desses serviços.
O hospital já tinha suspendido todas as cirurgias eletivas (que não são de emergência) devido à precaridade da limpeza. Procurada, a direção do Pedro Ernesto não foi encontrada para comentar os problemas da unidade.
A falta de pagamento das prestadoras de serviço também teve reflexos em outros hospitais estaduais. Tanto no Rocha Faria, em Campo Grande, quanto no Getúlio Vargas, na Penha, e no Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, há funcionários com os salários atrasados. Ontem, os terceirizados da limpeza nessas três unidades estavam trabalhando, mas apenas o lixo acumulado era retirado.
— Estamos fazendo operação tartaruga. Não estamos fazendo faxina — disse um funcionário.
Vereador propõe audiência pública
Membro da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) disse que, diante da crise nos hospitais estaduais e universitários do Rio, vai propor à Comissão de Direitos Humanos da Alerj a realização de uma audiência pública.
— A limpeza de um CTI e de um centro cirúrgico é diferenciada, precisa de profissionais habilitados. Se ela não é feita, a vida dos pacientes que estão internados é colocada em risco — disse o vereador.
Diretor-executivo da Associação das Empresas Prestadoras de Serviços (AEPS-RJ), José de Alencar assegurou que os terceirizados não param se o estado restabelecer os pagamentos:
— As empresas estão lutando com dificuldade, mas vamos dar um voto de confiança ao governo.
No que diz respeito aos servidores, Julio Bueno informou que o estado pagou os salários em dia em todos os meses de 2015, incluindo a primeira parcela do 13º, depositada em julho. Ele disse estar otimista com a perspectiva de pagamento dos salários dos servidores ativos e inativos no próximo dia 2 e da segunda parcela do 13º no dia 17 de dezembro.
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