• Nos bastidores, a prisão de Delcídio Amaral (PT-MS) foi classificada no Palácio do Planalto como uma 'bomba' capaz de provocar estragos imprevisíveis
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
Com o agravamento da crise política, a presidente Dilma Rousseff decidiu se reaproximar de todas as alas do PMDB, na tentativa de aprovar a meta fiscal e as medidas de ajuste no Congresso, barrando a ameaça de impeachment. Nos bastidores, a prisão de Delcídio Amaral (PT-MS), até quarta-feira passada líder do governo no Senado, foi classificada no Palácio do Planalto como uma “bomba” capaz de provocar estragos imprevisíveis.
Dilma precisa do PMDB como âncora para sustentar o governo, mas continua distante do vice Michel Temer, que comanda o partido. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, telefonou para Temer na semana passada e pediu a ele que ajudasse na articulação com o Congresso para a votação da meta fiscal, sob o argumento de que Dilma estaria em viagem ao Vietnã e ao Japão.
Preocupada com o clima de conflagração no Congresso, porém, Dilma resolveu encurtar a viagem internacional sem avisar Temer. A presidente só manteve o roteiro a Paris, onde participará da 21.ª Conferência do Clima, e amanhã - dia previsto para a retomada das votações - estará de volta a Brasília.
Apesar de não esconder a mágoa com Temer, por avaliar que o vice se movimentou para se apresentar como nome capaz de reunificar o País em caso de impeachment, Dilma foi convencida a fazer um gesto para segurar o PMDB, quando retornar do exterior. Além disso, ela vai se reunir com líderes de todos os partidos que compõem a coalizão para fazer um apelo pela unidade no plenário.
Depois do escândalo envolvendo Delcídio, acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, o governo viu a base aliada ruir e criar ainda mais dificuldades para avalizar projetos de interesse do Planalto. Sem conseguir aprovar na semana passada a alteração na meta fiscal de 2015, Dilma vai cortar pouco mais de R$ 10 bilhões no Orçamento. Se a tesourada não atingir R$ 107,1 bilhões, porém, ela estará mais uma vez confrontando o Tribunal de Contas da União (TCU) e, no diagnóstico da oposição, incorrendo em crime de responsabilidade.
Nesse cenário instável, todas as contas do núcleo político do Planalto para realinhar a tropa - e saber quem é contra ou a favor do impeachment - terão de ser refeitas.
“Nós não vamos deixar que esse caso envolvendo o senador Delcídio, embora triste, contamine as votações”, disse o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. O Planalto avalia, porém, que se o Congresso não aprovar a mudança na meta fiscal, a máquina pública corre risco de paralisia.
A prisão de Delcídio também teve como efeito imediato a desconfiança de deputados e senadores que estão na mira da Lava Jato sobre a validade de acordos com o Executivo. Um dia depois de a Polícia Federal ter revirado o gabinete do senador, era comum ouvir no Congresso a seguinte indagação: “Quem será o próximo?”
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está arredio e até a sugestão de aliados para que o correligionário Blairo Maggi (MT), recém-filiado ao PMDB, assuma o lugar de Delcídio na liderança do governo é vista com reservas. Até agora, não há substituto escolhido para a vaga de Delcídio.
Apesar de o Executivo ter maioria no Senado, que contrabalança a difícil situação de Dilma na Câmara presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o receio é de que tudo vire de ponta cabeça no Congresso.
Para completar o “inferno astral” do Planalto, senadores e deputados do PT também estão rebelados.
Na Câmara, um grupo de petistas não quer seguir a recomendação do governo para não provocar Cunha, que enfrenta processo no Conselho de Ética, acusado de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobrás.
No Senado, muitos se revoltaram contra a nota do presidente do PT, Rui Falcão, rifando Delcídio e prometem lavar a “roupa suja” na reunião da Executiva Nacional do partido, prevista para esta semana.
O mantra do Planalto, agora, é “reconstruir pontes”. A avaliação interna é que, se o governo perder a maioria no Senado, tudo pode desmoronar. É aí que entra o aval do PMDB. “O apoio não é ao governo, mas ao País”, resumiu o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). “Nós não vamos virar as costas para o Brasil.”
O PMDB, no entanto, ameaça romper com Dilma em março de 2016, quando fará uma convenção nacional para avaliar se vale a pena continuar com o casamento de conveniência.
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