Entrevista. Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco
Pedro Venceslau – O Estado de S Paulo
Afilhado político e sucessor de Eduardo Campos no governo de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) defende, em entrevista ao Estado, a tese de que o impeachment “não é golpe”, mas afirma que o processo perdeu legitimidade por ter Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à frente.
O PSB entrou em crise de identidade depois da morte do Eduardo Campos?
O PSB está se reformulando. Esteve sob a liderança do dr. (Miguel) Arraes durante muitos anos, depois sob a liderança de Eduardo Campos. Agora, com o desaparecimento inesperado do Eduardo, o partido está se reencontrando.
O PSB esteve ao lado do PT e depois do PSDB. O partido, hoje, está mais à esquerda ou à direita?
O PSB vai dar uma grande contribuição. A polarização dos últimos anos não fez bem ao Brasil.
O sr. assinou, com outros governadores, um documento contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Como essa decisão foi recebida no partido?
Eu fui dos signatários de uma carta que foi vendida como sendo de defesa do governo Dilma, mas não era. Eu e o governador (Rodrigo) Rollemberg (DF) não defendemos o governo, mas as instituições. O que questionamos nesse momento é a forma como o processo está sendo conduzido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Ele começou o processo na base da chantagem e não tem legitimidade para conduzir o impeachment. O partido ainda não deu uma opinião formal, mas nosso entendimento é que o pedido é constitucional. Impeachment não é golpe.
Na sua opinião há fundamento jurídico no parecer assinado pelos juristas Miguel Reale Jr., Hélio Bicudo e Janaina Paschoal?
O PSB decidirá isso em algum momento na comissão que avaliará o caso. A comissão (especial do impeachment) é inclusive formada por dois pernambucanos: os deputados Fernando Filho e Tadeu Alencar. Eu estou convencido que se trata de um processo político. A executiva nacional se reunirá com os membros do partido na comissão. Vou seguir a orientação que os deputados indicarem. Mas eu enfatizo: da maneira como o processo está sendo levado pelo Eduardo Cunha ele está fadado a não ter legitimidade.
Dirigentes do PSB dizem que o governador Geraldo Alckmin tem as portas abertas no PSB se desejar ser candidato ao Palácio do Planalto fora do PSDB. O que acha disso?
O PSB é aliado do PSDB em São Paulo. Tenho muito respeito pelo governador Alckmin, mas a vinda dele para o partido é uma discussão maior e que ainda não foi feita no partido. Qualquer um que ingresse no nosso partido tem que estar alinhado com o nosso programa, e não o contrário. De qualquer forma, o Geraldo tem, hoje, mais convergência com o pensamento do PSB do que divergências.
Como avalia a gestão da presidente Dilma?
Tenho uma boa relação institucional com a presidente. Sempre tive acesso a ela. Temos nossas discordâncias desde 2013, quando o PSB entregou os cargos que tinha e lançamos a candidatura do Eduardo Campos. Na questão microcefalia estamos tendo um diálogo muito aberto com o governo federal. Estou, por outro lado, cobrando as obras contra a seca.
Como avalia o comportamento da oposição, especialmente do PSDB, no Congresso Nacional ao longo de 2015?
Algumas pessoas da oposição erraram na condução do processo. Aprovaram pautas bombas que não poderiam ser aprovadas. A oposição provocou o jogo do quanto pior, melhor. Isso foi um desserviço ao Brasil. Houve também o apoio de alguns setores da oposição ao Eduardo Cunha, que precisa sair da presidência da Câmara. O PSDB fez, em alguns momentos, o discurso do quanto pior, melhor.
Apoia a proposta de recriação da CPMF?
A CMPF é o único instrumento que está na mesa para ajudar os Estados, municípios e a União a fechar as suas contas. Diante de um cenário onde não há alternativas, os governadores vão encontrar na CPMF a única opção.
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