terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Para Planalto, operação da PF agrava instabilidade política

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - A Operação Catilinárias da Polícia Federal (PF), desdobramento da Lava-Jato que tem como alvo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e dois ministros do PMDB, pegou de surpresa o Palácio do Planalto nesta manhã. Um auxiliar presidencial disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que a operação “aumenta a instabilidade política” num momento delicado para o governo, em que a oposição e dissidentes do PMDB – cujos caciques são alvos dessa operação – captam votos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff entre os deputados.

Como há dois ministros investigados nesta fase – Henrique Alves, do Turismo, e Celso Pansera, da Ciência e Tecnologia, ambos do PMDB –, o Planalto apresentou nota oficial se posicionando sobre a operação.

Da Base Aérea, onde se deslocaria para Belo Horizonte para cumprir agenda oficial, a presidente Dilma Rousseff conversou por telefone com vários ministros logo no início da manhã. Os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, reuniram-se rapidamente em seus gabinetes no Planalto para avaliar a operação e conversaram por telefone com os ministros da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, que cumprirá agenda em São Paulo, e da Justiça, José Eduardo Cardozo.

A ação preocupa o Planalto porque atinge lideranças e ministros do PMDB no auge do processo do impeachment que vem sendo conduzido por Eduardo Cunha. Como o pemedebista continua sentado na cadeira de presidente da Câmara, o governo teme represálias de sua parte, já que ele ainda detém a caneta, o cargo, e uma influência efetiva sobre um “exército” de pelo menos 200 deputados. O receio do governo é de que o temor quanto aos desdobramentos da Lava-Jato estimule os deputados da base governista a traírem e votarem favoravelmente ao afastamento de Dilma. Há 68 políticos investigados na Lava-Jato, majoritariamente do PT, PMDB e PP, todos com receio de serem presos ou alvos de ações de busca e apreensão.

O governo também se preocupa com os reflexos da operação no Senado, já que um dos alvos da Catilinárias é o entorno do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que o Planalto tenta preservar como aliado. Um dos alvos de busca e apreensão nesta manhã foi o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), próximo a Renan. Uma das estratégias do governo no impeachment é pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que determine que a abertura do processo se configure, somente, com aval conjunto das duas Casas legislativas. O Planalto avalia que Renan captaria votos suficientes entre senadores para barrar o impeachment de Dilma, caso a Câmara – onde a base é mais infiel – o autorize. O Supremo deve se pronunciar sobre esta questão no julgamento programado para amanhã (16).

Os dois ministros alvos da operação são ligados a Eduardo Cunha, mas também a outras lideranças do PMDB. O ministro Henrique Alves é vinculado ao núcleo próximo do vice-presidente Michel Temer, que é presidente nacional da sigla. E o ministro Celso Pansera também tem laços estreitos com o PMDB fluminense do ex-líder na Câmara Leonardo Picciani, que o Planalto tenta reconduzir à liderança da bancada. É mais um agravante da operação, já que Dilma e o governo se distanciaram do vice-presidente Michel Temer desde a carta em que ele expôs fissuras na relação com Dilma.

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