- O Estado de S. Paulo
A presidente Dilma se livrou do ministro Joaquim Levy, mas não dos seus problemas.
O novo ministro Nelson Barbosa assumiu a Fazenda com o discurso de que o crescimento econômico e o emprego dependem da arrumação das contas públicas e, nisso, não diferiu do que dizia o ministro que o precedeu.
Essa arrumação, por sua vez, exige não só a condução equilibrada do Orçamento, mas também as reformas estruturais, especialmente a da Previdência Social, como o ministro Barbosa enfatizou.
Sobrou o recado de que “não há coelho a tirar da cartola” – como advertiu o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. A título de contraponto, o governo acena com algum estímulo para alguns setores da economia, especialmente para a construção civil. Mas, nessa parada, não haverá nem subsídios nem recursos novos do Tesouro. É tentar pintar a paisagem com as mesmas tintas.
Com exceção das contas externas, os números que mostram o desempenho da economia não apontam melhoras. Do PIB, por exemplo, que deve ter recuado perto dos 4% em 2015, espera-se nova queda em 2016, de cerca de 3%. Isso significa menos renda produzida e menos ainda a ser distribuída. A inflação fechou o ano em 10,67% e vai para algo próximo dos 7% em 2016. A dívida pública líquida deve ter chegado aos 35,5% do PIB em dezembro e entende-se que avance para 40% ao fim de 2016. E é a piora das condições da dívida que vai puxando para cima o prêmio de risco do Brasil.
Se colocar em prática o que já adiantou com vários dos seus recados, o Banco Central voltará a apertar a política monetária, ou seja, voltará a puxar pelos juros básicos, movimento que provocará indignação de dirigentes sindicais, de líderes dos movimentos sociais e, também, de empresários. Não há como negar que os juros podem pouco quando a política fiscal não ajuda.
O governo está sem estratégia. Tenta segurar a economia em meio a uma tempestade perfeita com medidas que, de um lado, procuram apagar incêndios e, de outro, pretendem aparentar que estimulam a economia. Mas não sabe como reativar o investimento, como colocar em marcha leilões de concessão e levar os empresários a aumentar a produção.
Um setor que precisa de revisão é o de petróleo, que enfrenta hoje mergulho inédito de preços, fator que inviabiliza novos leilões de áreas de exploração e a produção local de sondas, plataformas e equipamentos.
Este é um setor ameaçado que pressiona carteiras de crédito da rede bancária, a mesma que vinha financiando forte expansão desenhada quando o petróleo estava sendo vendido a mais de US$ 100 por barril – hoje está em torno dos US$ 30. O governo teria de rever as regras de jogo da área, mas continua prostrado, sem saber que direção tomar.
A paralisia na política econômica é grave. Mas o impasse maior incide sobre a vida política. O esfriamento das propostas de impeachment não indica encaminhamento de soluções. Sugere apenas que o governo Dilma poderá ter mais três anos de tempestades a enfrentar.
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