sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Arthur Virgílio Neto: As responsabilidades de cada um

• Oposição deve fiscalizar duramente o governo e tem sido eficaz nessa nobre tarefa; peca quando não apresenta propostas concretas para tirar o Brasil da crise

- O Globo

O Brasil democrático jamais passou por crise tão profunda e dramática como a atual. E vive um quadro político degradado tanto pela corrupção endêmica quanto pela incapacidade do governo de propor soluções.

O Brasil está paralisado. União, estados e municípios estão com suas contas em frangalhos. O brasileiro sente sua vida piorar a cada dia. Ele entendeu que, desta vez, a crise é inteiramente nossa, não existe nenhuma influência negativa externa. Ele sabe, portanto, que é nossa obrigação resolvê-la, em nome do futuro e das gerações que chegam.

Bem recentemente, a presidente Dilma Rousseff sinalizou, timidamente que tenha sido, com o diálogo nacional. Foi quando defendeu a necessidade de uma reforma previdenciária, demonstrou preocupação com a inflação tresloucada e classificou o ajuste fiscal como necessidade pétrea.

Belas palavras, que precisam acompanhar-se de exemplos nítidos: propor mesmo a reforma previdenciária, avançar reformas tributária e trabalhista adentro, tirar do papel a reforma administrativa, eliminando ministérios supérfluos e cargos comissionados mesquinhamente aparelhados pelo PT e aliados.

Entendo que o papel do PSDB deve ser pela cobrança de densas mudanças e pela votação, no Parlamento, nos mesmos moldes em que deliberava quando o presidente se chamava Fernando Henrique Cardoso. Repetir a oposição pavloviana que sempre marcou o PT significaria um pacto com a perda de coerência e conceito. O PSDB tem de imitar a si mesmo e atuar, de fronte erguida e orgulho não arrogante, como o partido que liderou o processo de estabilização da economia e a primeira geração de reformas estruturais.

E o governo federal está sob a obrigação moral de fazer a sua parte: os gastos públicos só aumentam e os temas fundamentais são relegados, por exigência do PT, enfermiços e da fisiologia de uma “base aliada” insaciável.

Um entendimento nacional, que não envolva cargos nem adesistas, é inescapável. O Brasil não transitará, em normalidade, até 2018, no passo em que vai. E o caos somente pode interessar a quem não cultive a responsabilidade pública dentro de si.

Até o presente, o Planalto não falou seriamente sobre diálogo. Ou não trataria adversários como inimigos. Basta vermos as capitais que, proporcionalmente, menos recursos receberam, além das transferências constitucionais e, sobretudo por isso, obrigatórias: Manaus, Belém e Teresina, todas governadas por oposicionistas. Diálogo começa com efetivo espírito republicano e respeito a todos os brasileiros, sem essa coisa diminuta do “eles e nós”, que consolida um clima de desconfiança nocivo à nação.

Está em xeque o governo e está em xeque a oposição. Esta deve fiscalizar duramente o primeiro… e tem sido eficaz nessa nobre tarefa; peca quando não apresenta propostas concretas para tirar o Brasil da crise. O governo deve parar de confundir governabilidade com dividir a máquina pública com suseranias para usufruto de políticos patrimonialistas e, não raro, corruptos.

O Brasil tem de reagir. Os homens públicos de bem devem despir-se de ambições e preconceitos. Quase quatro milhões de patrícios nossos foram escorraçados da chamada classe C, rumo às classes De E, graças ao desemprego e à queda na renda.

A crise que a todos nós avassala nasce em erros de política econômica cometidos no segundo governo Lula e no primeiro termo da presidente. Mas governadores e prefeitos, incluindo, obviamente, os eleitos por partidos de oposição, são obrigados a administrar as consequências do desajuste. Apostar no aprofundamento desse quadro consagraria o caos e prejudicaria, ainda mais, toda a população.

A hora é de diálogo, trabalho e austeridade. O povo brasileiro não suportará uma espera estéril. Trocando em miúdos: Mauricio Macri sim; chavismo e pavlovianismo, não.

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Arthur Virgílio Neto é prefeito de Manaus

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