O Globo
A repetição das prévias para a escolha do candidato à prefeitura de São Paulo do PSDB parece estabelecer uma sistemática que pode vir a ser usada mais adiante, para a definição do candidato do partido à Presidência da República. Essa ideia sempre esteve presente nos debates tucanos, mas nunca se concretizou, dando margem a que suas diversas correntes se digladiassem não apenas na fase de definições como, principalmente, na própria campanha eleitoral.
Formou-se um consenso entre os líderes paulistas Geraldo Alckmin, atual governador, e José Serra, senador, de que o líder mineiro Aécio Neves não se empenhara devidamente nas campanhas presidenciais de 2002 a 2010. Foi preciso que o próprio Aécio perdesse em Minas a eleição para Dilma Rousseff em 2014, resultado determinante, sem dúvida, para sua derrota a nível nacional, para esclarecer que o que os tucanos paulistas viam como
relaxamento do colega mineiro não passava de um mito, ou pelo menos não era decisivo.
O que existia mesmo era um PT forte em Minas que sempre dificultou a atuação dos tucanos nas eleições nacionais, mesmo quando o PSDB vencia a disputa pelo governo. Mais uma vez disputa-se nos bastidores o espaço principal para a candidatura presidencial em 2018 (ou quando houver a nova eleição), com pelo menos quatro candidatos explicitados, três deles já derrotados em eleições presidenciais anteriores: Geraldo Alckmin, candidato em 2006; José Serra, candidato em 2002 e 2010; Aécio Neves, candidato em 2014; e o senador Álvaro Dias, que quer ser candidato e deve mudar de partido por se sentir sem espaço político no PSDB.
Embora, em teoria, a disputa esteja ainda muito longe, os candidatos já tentam se posicionar diante da instabilidade da situação política, que pode desaguar num processo de impeachment, ou da possibilidade de que a chapa Dilma-Temer possa vir a ser impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso do poder econômico e político.
Serra, por exemplo, é especulado para ministro da Fazenda de um eventual governo Temer, o que poderia lhe valer a candidatura à Presidência pelo PMDB.
Embora, na minha opinião, existam razões suficientes para que as duas consequências se materializem, no momento o ambiente político parece menos favorável do que já esteve a um desfecho antecipado. Mas a própria instabilidade política do país sugere que essa situação pode mais uma vez mudar, pois todos os atores estão sujeitos ao imponderável da Lava-Jato e das delações.
O senador Aécio Neves parece estar confortável na situação de candidato prioritário do partido à Presidência da República, tanto pelo favoritismo que as pesquisas de opinião lhe dão, devido ao recall da última eleição, quanto pelo controle da máquina partidária.
Sua votação na eleição de 2014 foi a maior já obtida por um candidato tucano, e sua derrota ocorreu pela menor diferença registrada até agora. Mas é inegável que essa performance deveu-se à unidade que o partido obteve pela primeira vez nas últimas eleições, sem que as disputas internas atrapalhassem os acordos partidários.
A diferença a seu favor em São Paulo, de cerca de 7 milhões de votos, foi maior do que a que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um político paulista, obteve nas duas ocasiões em que foi eleito presidente da República no primeiro turno. Tal dimensão deu também, no entanto, um realce à atuação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que venceu a eleição no primeiro turno, perdendo apenas em um município paulista.
No mapa eleitoral de São Paulo desde 2010, Alckmin detectou, por exemplo, áreas de predominância petista em assentamentos organizados pelos governos tucanos, originados ainda na época de Franco Montoro no MDB. Esse mapeamento fez com que aprimorasse o programa de política agrária do Estado de São Paulo, através da Fundação Instituto Terras com investimentos em recuperação de estradas, poços, fossas sépticas, e agora atualizando a lei para permitir que os pequenos agricultores dos assentamentos possam passar aos filhos as terras concedidas pelo estado.
Alckmin agora se prepara para buscar novamente a vaga de candidato dentro do partido, mas teria um plano B, que nega: disputar a eleição presidencial pelo PSB, cujo representante em São Paulo, Márcio França, é seu vice.
No momento, tudo indica que ele procura apenas agregar forças políticas para o embate dentro do PSDB, e até mesmo a aproximação criticada com o MST tem mais de cálculo político próprio nas áreas de assentamento do estado, que já deram resultado em 2014, do que uma tentativa de adesão, que seria não apenas inócua como prejudicial à imagem de equilíbrio que pode lhe ser útil nesse momento de radicalismo político no país.
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