• Para ter apoio do PMDB contra impeachment, governo recebe desafetos em busca de pacificação
Júnia Gama - O Globo
BRASÍLIA- No esforço para distensionar a relação com o PMDB, o Palácio do Planalto faz movimentos estratégicos para ter o partido a seu lado, o que inclui aproximação até com quem é tido como adversário do governo. Na quarta, a presidente Dilma Rousseff se encontrou pela primeira vez este ano com o vice-presidente Michel Temer, buscando esfriar as desavenças abertas pela carta de queixas que o peemdebista lhe enviou ano passado; e, nos últimos dois dias, ministros receberam o candidato a líder do PMDB, Hugo Motta (PB), lançado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Motta entrou na disputa sob o patrocínio de Cunha para impedir a vitória do governista Leonardo Picciani (RJ) já no primeiro turno. Apesar do propósito explícito, Motta foi recebido por dois ministros próximos à presidente — Ricardo Berzoini (Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social) — e deles ouviu que o governo não irá interferir na disputa. Em retribuição, Motta disse que, se eleito, vai dialogar com o governo.
O Planalto avalia que a disputa da liderança pode ir para o segundo turno. Com isso, a estratégia é “desarmar” os setores do PMDB que, até o fim do ano passado, ensaiavam um desembarque do governo, movidos pela perspectiva de o processo de impeachment triunfar no Congresso. Com o recesso do Legislativo e o arrefecimento das pressões sobre o governo, há uma disposição de trazer o PMDB de volta ao núcleo do governo para impedir que o impeachment volte a ganhar força quando as discussões no Congresso forem retomadas. Do outro lado, percebendo a dificuldade de levar Temer ao poder, os peemedebistas também voltaram a buscar uma melhor relação com o governo.
Hugo Motta começou sua peregrinação junto aos ministros antes mesmo de anunciar publicamente que disputaria a liderança. Na quarta-feira, foi recebido no Palácio do Planalto por Edinho Silva. Ontem, esteve com Berzoini, e aguarda ser recebido nos próximos dias pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. O deputado faz também uma ofensiva sobre apoiadores do atual líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), como o ministro da Saúde, Marcelo Castro.
O primeiro efeito do lançamento da candidatura de Motta foi jogar de vez em banho-maria a nomeação do deputado Mauro Lopes (PMDBMG) para a Secretaria de Aviação Civil. Segundo assessores do governo, é preciso esperar o desenrolar da disputa pela liderança do partido aliado para definir que destino será dado à pasta. Há uma avaliação no Planalto que, embora Picciani seja a melhor alternativa, Motta não é um nome ruim porque, apesar de ser aliado de Cunha, não tem perfil oposicionista e está buscando, desde já, o diálogo com o governo.
No encontro com Berzoini, o deputado se esforçou para se descolar de Cunha. Fez questão de pontuar que não é candidato do presidente da Câmara e que, caso vença a eleição, terá uma atuação independente.
— O Eduardo não é candidato a líder. Quem vai conduzir a bancada sou eu — disse Motta a Berzoini, segundo relatos.
Pauta de confronto x agenda positiva
Na conversa, Berzoini externou que o governo não pretende interferir na escolha do líder do PMDB. O ministro acrescentou, de acordo com relatos, que o governo respeitará a decisão da maioria e buscará o diálogo com o líder escolhido pela bancada para alinhar os posicionamentos. A reunião foi pedida por Motta, que telefonou ao ministro antes de anunciar o lançamento de sua candidatura. A aliados, Motta afirmou ter saído da conversa com Berzoini com a impressão de que o Planalto quer sair da pauta de confronto e construir uma agenda positiva para o país.
O deputado, que já se declarou contrário ao impeachment da presidente Dilma, concordou que a pauta do afastamento não deve ser exclusiva e que é preciso que o Congresso trabalhe outros temas. Além disso, defendeu que a indicação dos nomes para a comissão que analisará o impeachment siga a proporcionalidade exprimida pela bancada.
— A tendência é que Temer volte ao núcleo do governo, mesmo que a relação entre ele e a presidente nunca chegue a ser de confiança. Mas, com o esfriamento do impeachment, o que ele vai ficar fazendo até 2018? Certamente ele vai querer manter os sete ministérios do PMDB — afirma um auxiliar palaciano.
A candidatura de Motta foi gestada no gabinete de Cunha, que decidiu entrar de cabeça na disputa pela liderança do PMDB e articulou o lançamento de um terceiro nome para tentar dividir os votos e levar a disputa para o segundo turno. Motta é amigo da filha do presidente da Câmara, Danielle Cunha, também investigada na Lava-Jato. Além da relação pessoal, o deputado mantém contratos de assessoria em marketing político com a filha de Cunha. Motta presidiu a CPI da Petrobras, que encerrou os trabalhos sem indiciar parlamentares, e foi criticado por blindar Cunha na comissão.
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