Por Arícia Martins – Valor Econômico
SÃO PAULO - Reajustes de tarifas de transporte urbano acima do esperado e os efeitos das chuvas sobre os preços dos alimentos in natura estão pressionando a inflação neste início de ano, o que deve impedir uma queda mais acentuada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses. A correção do salário mínimo em mais de 11% e os reajustes das mensalidades escolares também devem contribuir para manter o índice pressionado.
A expectativa era que o IPCA recuasse bastante nos primeiros três meses do ano. O problema é que, neste mês, já foram anunciados reajustes de tarifas de ônibus urbano em quatro das 13 capitais nas quais é feita a apuração dos preços para o IPCA: São Paulo, Rio, Salvador e Belo Horizonte. A alta média foi de 9,8%, segundo cálculos dos economistas Salomão Quadros e André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
"A preocupação é que os reajustes dessas quatro capitais deem o tom do que vai ocorrer nas cidades onde ainda não foram corrigidos os valores cobrados pelo serviço", dizem Quadros e Braz no último Boletim Macro do Ibre. "Se for assim, o resultado fechado do ano ficará bem acima do projetado pelo Ibre para as tarifas de ônibus, de aumento de 7%. A consequência será a revisão para cima da estimativa de inflação em 2016, hoje de 7,5%".
Por causa das eleições municipais, analistas esperavam reajustes menores nas tarifas de ônibus. Fábio Romão, da LCA Consultores, elevou de 5,5% para 8,7% sua estimativa de aumento médio das passagens em 2016. Em 2012, ano da última eleição municipal, a correção média foi de 5,26%. Romão explica que o aumento da alíquota do ICMS da gasolina influenciou a alta de 1,2% prevista para o combustível em janeiro, período em que normalmente esses preços costumam cair ou registrar correções modestas.
Em razão da crise fiscal, 18 Estados e o Distrito Federal começaram o ano elevando alíquotas do ICMS de um a três pontos percentuais. Há, ainda, o impacto da tributação mais alta sobre produtos como cigarros, energia elétrica e telecomunicações, diz Basiliki Litvac, da MCM Consultores. Para ele, o grupo alimentação e bebidas terá aumento de 3,6% no primeiro trimestre, 0,1 ponto percentual acima do registrado em 2015.
Pressão de alimentos e transportes impede recuo maior do IPCA no 1º tri
Por conta, principalmente, da desaceleração das tarifas de energia, a inflação do começo deste ano certamente será menor que a de igual período de 2015, mas o cenário está longe de ser tranquilo. Reajustes de transporte público e efeitos de problemas climáticos sobre os preços de alimentos in natura vieram acima do esperado, e vão impedir perda de fôlego mais acentuada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses.
Também contribuem para a redução mais lenta do indicador pressões que já estavam na conta, como o forte reajuste de mensalidades escolares e os efeitos da correção do salário mínimo.
Em janeiro, foram anunciados aumentos de tarifas de ônibus urbano em 4 das 13 capitais que compõem o IPCA: São Paulo, Rio, Salvador e Belo Horizonte. A alta média foi de 9,8%, apontam os economistas Salomão Quadros e André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), abaixo, portanto, da taxa de 13,3% registrada no começo do ano passado.
"A preocupação é que os reajustes dessas quatro capitais deem o tom do que vai ocorrer nas cidades onde ainda não foram corrigidos os valores cobrados pelo serviço", dizem Quadros e Braz no Boletim Macro de janeiro. "Se for assim, o resultado fechado do ano ficará bem acima do projetado pelo Ibre para as tarifas de ônibus, de aumento de 7%. A consequência será a revisão para cima da estimativa de inflação em 2016, hoje de 7,5%."
Em função das eleições municipais, eram esperados reajustes mais fracos nessas tarifas, concorda Fabio Romão, da LCA Consultores, que elevou de 5,5% para 8,7% sua estimativa para o avanço de ônibus urbano em 2016. Em 2012 - último ano com eleições municipais -, o item subiu 5,26%.
Ainda nos transportes, Romão menciona que o aumento da alíquota do ICMS da gasolina influenciou a alta de 1,2% prevista para o combustível em janeiro, período em que normalmente esses preços costumam cair ou registrar taxas bastante modestas.
Há, ainda, o impacto no IPCA da maior tributação sobre outros produtos, diz Basiliki Litvac, da MCM Consultores, como cigarros, energia elétrica e telecomunicações. Esse efeito se dará ao longo de todo o primeiro trimestre, período em que, segundo seus cálculos, a inflação será de 2,3%. Ao todo, pelo menos 18 Estados e o Distrito Federal começaram o ano elevando alíquotas de ICMS entre um e três pontos percentuais.
Os cigarros, afirma Litvac, vão refletir não só a alta do ICMS, mas também diversos reajustes efetuados pela Souza Cruz em 31 de dezembro, diferenciados por marca e região, com exceção dos Estados de São Paulo, Rio e Paraná. Em Brasília, por exemplo, a alta dos cigarros no IPCA deve chegar a 25% neste mês, tendo em vista a mudança na tributação e a alta de mais de 23% da principal fabricante do país.
"Temos vários focos de pressão neste começo de ano", diz Basiliki, com destaque para alimentos. A MCM trabalha com aumento de 3,6% do grupo alimentação e bebidas de janeiro a março, 0,1 ponto acima do observado no primeiro trimestre de 2015. Em janeiro, o grupo deve ter alta de 1,9%. Os primeiros meses do ano são sempre marcados por preços maiores de itens in natura, afirma economista, tendência agravada neste ano pelo fenômeno El Niño.
Para Thiago Curado, sócio da 4E Consultoria, a inflação de alimentos não será muito diferente neste primeiro trimestre do que a registrada nos primeiros três meses de 2015, porque, ao contrário do ocorrido no início do ano passado, o mês de março já deve mostrar alguma devolução das fortes altas nos dois meses anteriores. Mesmo assim, diz, as coletas apontam que janeiro terá resultado bastante ruim para o período na parte de alimentação, bem perto do avanço observado em dezembro (1,5%).
Passado o primeiro mês do ano, avalia ele, a inflação ainda sofrerá impactos em fevereiro e março do repasse cambial para alguns bens, contido nos últimos meses de 2015 pela intensa redução do nível de atividade. Segundo Curado, sofrerão reajustes por conta do câmbio, ainda que modestos, produtos como vestuário, eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Para o primeiro setor, o economista estima alta de 0,18% nos primeiros três meses do ano, quando normalmente esses preços caem. De janeiro a março de 2015, a deflação foi de 0,71%.
Apesar das pressões de curto prazo, o IPCA acumulado do primeiro trimestre de 2016 será consideravelmente menor do que o de 2015, pondera Flávio Serrano, economista-sênior do Haitong. Isso porque os três primeiros meses do ano anterior absorveram a maior parte do "realismo tarifário" aplicado às contas de luz, que saltaram 36,3% de janeiro a março. Neste ano, sem reajustes extraordinários e mudança para pior do regime de bandeiras tarifárias, a alta não deve superar 1%, estima.
Por outro lado, partindo de um nível próximo de 11% no fim de 2015, a inflação acumulada em 12 meses vai demorar bastante para chegar ao patamar de 7% previsto para o fim deste ano, destaca Serrano. "Herdamos uma inflação muito elevada do ano passado", diz.
Romão, da LCA, estima que o IPCA em 12 meses terá desaceleração de cerca de 1,5 ponto percentual até o fim do primeiro trimestre, chegando a 9,12% em março. Há cerca de um ano, a expectativa da LCA era que essa descompressão pudesse chegar a três pontos. "O estrago foi feito pelos alimentos in natura, pelos reajustes de ônibus e pelo ICMS de combustíveis."
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