Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Convencido de que está com a cabeça a prêmio nas investigações em curso sobre a prática de corrupção, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou de estratégia e partiu para o ataque, posição em que se sente mais confortável. A contratação do advogado Nilo Batista para defendê-lo faz parte dessa nova postura. Lula decidiu que vai acionar mais vezes os tribunais, sempre que se julgar difamado, e chamar a atenção quando considerar inadequado o comportamento de delegados, promotores, procuradores e juízes.
Interlocutores do ex-presidente da República dizem que Lula resolveu "reagir e ao reagir mostra que está se preparando para a campanha eleitoral de 2018". O ex-presidente estaria assim construindo a "narrativa" para a sucessão. Lula subiu o tom das críticas à Operação Lava-Jato e tornou mais explícitas publicamente as divergências que tem à maneira como a presidente Dilma Rousseff lida com as crises políticas e econômica. O PT tem alternativas ao nome do ex-presidente para 2018, mas o presidente da sigla, Rui Falcão, costuma dizer que não trabalha com Plano B, apenas com o Plano A - Lula.
Ameaçado por operações da PF e MPF, Lula prepara candidatura em 2018
Da última vez em que esteve na Polícia Federal, em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi surpreendido quando o delegado, ao responder a uma pergunta de seu advogado Nilo Batista, disse que ele seria ouvido na condição de investigado. Batista então disse que Lula não iria depor. O delegado então corrigiu e disse que ele seria ouvido na condição de informante.
Lula já foi ouvido antes como informante na Polícia Federal. O presidente do PT, Rui Falcão, também. Nessa condição, a pessoa não está formalmente sob investigação. Para o ex-presidente da República, no entanto, o incidente só reforçou a suspeita que o levou a recorrer aos serviços do advogado Nilo Batista: sua cabeça é o objetivo final de procuradores e delegados nas investigações atualmente em curso no Ministério Público e na Polícia Federal. O "grande prêmio" - como diz o próprio Lula.
A contratação de Nilo Batista já configurou uma mudança na estratégia de Lula. Até há bem pouco tempo, quando os amigos o advertiam de que o objetivo de delegados e procuradores era prendê-lo, Lula dava de ombros. Agora não só contratou Batista como tem ouvido um grupo de advogados mais próximos. E está no ataque, como demonstra a reveladora entrevista que concedeu a blogueiros.
Na ofensiva, Lula atacou como nunca antes as investigações conduzidas pela Polícia Federal e o Ministério Público e a imprensa. Disse que agora não vai mais deixar passar batido as denúncia e vai abrir processos em série. Só na última sexta-feira protocolou uma interpelação judicial para que o apresentador de TV João Dória Jr, pré-candidato do PSDB a prefeito, explique uma frase na qual diz que Lula é "um sem-vergonha e cara de pau", anunciou a abertura de um novo processo contra a revista "Veja" e bateu firme no promotor que o acusa de lavagem de dinheiro, classificando sua conduta de "irregular" e "arbitrária".
Também fez um gesto calculado em direção ao PT. Não só defendeu o partido, como também o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro João Vaccari, o que não vinha fazendo. Lula disse que a prisão de ambos é injusta. Até o PT, ao se manifestar sobre a última prisão de Dirceu, foi mais comedido.
Entremeando "fanfalulices" - neologismo criado por amigos para se referirem às bravatas do ex-presidente - e ameaças, Lula "mostra que está pronto para reagir e ao reagir está se preparando para a campanha eleitoral de 2018", dizem amigos e interlocutores mais frequentes. Na prática, Lula somente não será candidato à sucessão da presidente Dilma Rousseff por algum motivo de força maior ou se não quiser. O presidente do PT, Rui Falcão, costuma dizer que não tem Plano B, só o Plano A: Lula. E apenas vai discutir um eventual Plano B, se algum dia o Plano A não puder ser cumprido.
Os cenários feitos no PT são mais de curto prazo, mas também são feitas projeções para até 2018. O primeiro embate é o impeachment. Outra prioridade é a estabilização da economia. Ninguém aposta na volta do crescimento, no atual governo, sobretudo em níveis como o de 2010, mas pelo menos que Dilma consiga trazer a inflação para o centro da meta. Já seria uma ajuda para 2018.
Antes de 2018, no entanto, tem 2016. A prioridade do PT é reeleger Fernando Haddad em São Paulo, um ambiente hoje hostil. Comparado ao pessimismo de boa parte da militância, Lula exala otimismo. Na entrevista aos blogueiros, tocou no assunto. "Tem gente que acha que o PT acabou, e vocês vão ver. Eu acho que o Haddad vai ser reeleito em São Paulo, só pra falar a maior cidade", disse.
Em particular, o diagnóstico de Lula é bastante parecido. O ex-presidente disse aos amigos que Haddad será reeleito porque não tem adversários. Nem mesmo a senadora Marta Suplicy, hoje no PMDB, que perdeu a prefeitura para José Serra (PSDB) em 2004, mas deixou o cargo com bons índices de aprovação. A eleição em São Paulo é fundamental para o PT. Se Haddad se eleger, o PT pode declarar vitória, mesmo que eleja menos prefeitos no país. A expectativa é manter mais ou menos o número atual. Na Grande São Paulo, o PT já aposta que Luiz Marinho deve fazer o sucessor em São Bernardo do Campo.
Vencendo em São Paulo e se Dilma estabilizar a economia - o cenário mais otimista -, o PT espera entrar mais competitivo em 2018. Se Lula não for o candidato, há quatro alternativas sobre a mesa: os ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Jaques Wagner (Casa Civil), o ex-governador Tarso Genro (RS) e o próprio Haddad, se vencer a eleição. Entre os aliados, há duas alternativas consideradas.
A primeira seria do PMDB, apesar do afastamento do governo de setores do partido. Um nome seria o do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Não é à toa que o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) vem subindo mais uma vez o tom de seus ataques ao PMDB - ele é a outra opção, embora vista com muita desconfiança no PT pelo destempero verbal. Lula está chateado com Ciro desde que ele declarou que o ex-presidente não era corrupto mas que seu governo não combateu a corrupção como deveria. "Se eu não fiz nada, quem fez?" perguntou Lula a um interlocutor, lembrando que fez o Portal da Transparência, a Controladoria-Geral da União (CGU) e deixou a Polícia Federal investigar.
O que o próprio Lula tem dito e repetido sobre 2018 é que será sim candidato, se for para defender as conquistas de seu governo. Mas esteja ou não no palanque principal, sua intenção é participar de qualquer jeito da campanha eleitoral. Promete que já estará em ação nas eleições municipais de outubro, especialmente na campanha de Fernando Haddad à reeleição em São Paulo.
Numa entrevista recente, Lula foi colocado diante do fato de que, em apenas um ano, sua rejeição saltara de 33% para 55%. O ex-presidente não demonstrou maior preocupação. Respondeu que era possível transformar rejeição em aprovação em apenas dois meses de uma campanha cujos pilares Lula parece assentar desde já, quando promete processar desde jornalistas a personalidades que cometam alguma imprudência como o lutador de MMA Wanderlei Silva. Ele postou em uma rede social foto que seria de Fábio, filho de Lula, abastecendo uma lancha de luxo. A foto não era de Fábio.
Lula também passou a dizer em público, sem cerimônia, o que antes apenas falava em privado da presidente Dilma Rousseff. Na hipótese de o melhor cenário petista não se concretizar e Dilma não estabilizar a economia, trazendo a inflação para o centro da meta, o ex-presidente já tem a quem culpar - ela mesma, a presidente que não ouviu seus reiterados conselhos.
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