Mariana Haubert, Ranier Bragon e Débora Álvares – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Líderes da oposição no Congresso defenderam nesta terça-feira (15) que o ministro Aloízio Mercadante (Educação) seja demitido do cargo e estudam como solicitar sua prisão após a revelação de que ele tentou subornar o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) para que ele não fizesse uma delação premiada.
Delcídio entregou gravações à PGR (Procuradoria Geral da República) de conversas de um de seus assessores com o ministro, na qual Mercadante tenta evitar a delação do senador, oferecendo ajuda financeira e lobby junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para sua soltura.
Integrantes da oposição da Câmara firmaram que vão acionar a PGR (Procuradoria-Geral da República) e solicitar que Rodrigo Janot encaminhe ao STF (Supremo Tribunal Federal) um pedido de prisão do ministro da Educação Aloizio Mercadante.
PSDB, DEM e PPS estudam as formas jurídicas de apresentar a peça. Os líderes dos partidos avaliam, contudo, que as acusações contra Mercadante são gravíssimas e semelhantes às que levaram, em novembro do ano passado, o senador Delcídio do Amaral à prisão.
"Houve uma tentativa de compra de testemunha e de obstrução da Lava Jato. Isso está muito claro. O ministro precisa deixar o cargo e ser preso", afirmou o líder de bancada Rubens Bueno (PPS-PR).
A ofensiva de Mercadante foi relatada por Delcídio no quinto termo de depoimento de sua colaboração premiada, homologada nesta terça-feira (15), ao qual a Folha teve acesso. A informação foi antecipada pela revista "Veja".
"Delcídio foi preso justamente por obstruir os trabalhos da Justiça e era exatamente isso que o ministro Mercadante estava fazendo. Se Dilma tivesse o mínimo de dignidade exoneraria o ministro na hora", afirmou o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).
Delcídio foi preso porque o filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, gravou uma conversa com o até então líder do governo ofereceu R$ 50 mil para a sua família e um plano de fuga para que o ex-diretor não fechasse acordo de delação premiada com o Ministério Público, o que acabou acontecendo.
O senador Álvaro Dias (PV-PR) pediu que a presidente Dilma Rousseff saia a público para esclarecer se Mercadante falou em seu nome e em nome do governo.
"É algo grave que exige uma posição da presidente. Como pode permanecer o ministro se a presidente entender como verdadeira a delação? [...] Ficou subentendido que sim, em nome do governo, pelo menos é o que está revelado na delação, que não está mais sob sigilo", disse.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) foi um pouco mais além que os seus colegas e defendeu a prisão de Mercadante.
"Fica claro que a oferta foi idêntica só que os figurantes são outros. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Pau que dá em Chico tem que dar em Francisco. Então, diante desse fato a sociedade brasileira espera que o tratamento dado a Delcídio seja o mesmo dado a Mercadante", afirmou.
"O que precisamos neste momento é encarar esse fato como sendo então uma rotina que se aplicará a todos independente de ser senador, ministro, qualquer autoridade política do país. Na gravação, fica claro que o objetivo do ministro Mercadante foi dificultar que a Justiça tivesse acesso às provas, fica evidente que o tratamento que tem que ser dado a ele não pode ser um milímetro diferente do que dado ao senador Delcídio do Amaral", completou Caiado.
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