• Ministro propôs pedir socorro do Judiciário e do Senado a Delcídio
Vinicius Sassine e Renata Mariz - O Globo
BRASÍLIA - O senador Delcídio Amaral afirmou em sua delação que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tentou evitar a colaboração do parlamentar junto à Procuradoria- Geral da República ( PGR), inclusive com uma ajuda financeira e com promessa de atuação junto aos presidentes do Supremo Tribunal Federal ( STF), Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros ( PMDB-AL).
As acusações fazem parte da colaboração, homologada ontem pelo ministro do STF Teori Zavascki. As acusações de Delcídio a Mercadante são embasadas por uma prova: a gravação de duas conversas, em 1 º e 9 de dezembro de 2015, entre o ministro e José Eduardo Marzagão, assessor do senador.
O delator entregou os áudios à PGR como prova das acusações. Há ainda uma terceira conversa gravada, de 28 de dezembro, entre Marzagão e uma assessora de Mercadante chamada “Cacá”. As conversas ocorreram no próprio ministério. Delcídio já estava preso preventivamente por ter tentado atrapalhar a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Na primeira conversa, Mercadante se ofereceu para ajudar no que fosse possível, mas disse não ser advogado e que não iria se “meter na defesa”. No segundo diálogo, Mercadante prometeu uma conversa com Lewandowski para “ver se a gente encontra uma saída”. A mesma oferta de conversa foi feita em relação a Renan.
O ministro respondeu assim ao saber de supostas dificuldades financeiras de Delcídio: “Bom, isso aí também a gente pode ver o que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. Não sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu posso ajudar.”
Ao depor, Delcídio fez uma interpretação sobre o significado das conversas do assessor com o ministro: “A mensagem de Mercadante, a bem da verdade, era no sentido do depoente não procurar o Ministério Público Federal para, assim, ser viabilizado o aprofundamento das investigações da Lava- Jato”.
Repúdio com indignação
Segundo o delator, o pagamento de advogados ocorreria “provavelmente por meio de empresa ligada ao PT”: “O depoente assim conclui porque este é o modus operandi do PT”.
Delcídio ressaltou: Mercadante “é um dos poucos que possui a confiança de Dilma Rousseff, tendo afirmado, inclusive: ‘ Se ela tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu descerei ao lado dela’”. Pela visão do delator, o ministro agiu como emissário de Dilma. Delcídio disse que sua mulher havia sido procurada por Mercadante, e teria “declinado” da ajuda por saber dos “atritos de natureza política” entre os dois.
Em nota, a presidente Dilma se disse indignada e negou qualquer relação com a iniciativa de Mercadante. “A presidenta da República, Dilma Rousseff, repudia com veemência e indignação a tentativa de envolvimento do seu nome na iniciativa pessoal do ministro Aloizio Mercadante”, diz nota.
Na delação, Delcídio atribuiu a Mercadante a seguinte declaração: “Se o depoente resolvesse colaborar com o Ministério Público Federal e com o Poder Judiciário, receberia uma responsabilidade monumental por ter sido um agente de desestabilização”.
Mercadante negou que tenha tentado influenciar Delcídio. Segundo ele, vários trechos do diálogo mostram com clareza que ele não arquitetava comprar o silêncio do senador, prestar apoio financeiro ou acionar autoridades para ajudar na soltura de Delcídio, tais como: “Eu não vou entrar nisso, a decisão ( de fazer delação) é dele, é um direito dele”, e “Não tô nem aí se vai delatar, não vai delatar”.
Ele isentou Dilma, dizendo que a conversa com Marzagão foi um gesto pessoal, de solidariedade à família de Delcídio. Disse que jamais tratou do assunto com qualquer ministro ou com Renan Calheiros. Afirmou ainda que, ao se referir a Lewandowski, falava da construção de uma tese jurídica sobre o papel do Senado, que manteve Delcídio preso, num eventual pedido de soltura do senador. Nesses termos, defendeu, não haveria problema em procurar Lewandowski:
— Acho que não há nenhum problema discutir teses ( jurídicas). Não posso entrar é na defesa específica, no devido processo legal. E disse ( na gravação) que não ia me meter: ‘ Não sou advogado, não tenho o que fazer, não sei do que se trata’. Vocês querem algo mais claro que isso? — perguntou.
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