Débora Álvares – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Em seu discurso mais duro desde que assumiu a liderança do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE) subiu na tarde desta segunda-feira (28) à tribuna do plenário da Casa e se dirigiu diretamente ao vice-presidente da República, Michel Temer, a quem pediu cautela na decisão do PMDB de deixar o governo e apoiar o impeachment de Dilma Rousseff.
Em tom duro, o senador apelou à biografia do peemedebista. O Costa disse que os que agora atacam a presidente se voltarão em breve contra Temer e que ele, caso Dilma seja afastada, "será o próximo a cair".
"Não pense que os que hoje saem organizados para pedir 'Fora, Dilma' vão às ruas para dizer 'Fica, Temer', para defendê-lo. Não! Depois de arrancarem, com um golpe constitucional, a presidenta da cadeira que ela conquistou pelo voto popular, essa gente vai para casa porque estará cumprida a sua vingança e porque não lhe tem apreço algum. E, seguramente, Vossa Excelência será o próximo a cair".
O vice-presidente já avisou nesta segunda que o PMDB deixará o governo a partir desta terça, quando reunirá suas lideranças. O movimento do partido, o maior da base aliada, tende a motivar o desembarque de outras siglas, como o PP e o PSD.
Costa chama a atitude do partido de "oportunista". Em seu discurso, pediu que os peemedebistas agissem com "responsabilidade e equilíbrio".
"Não quero aqui imaginar que — em desapreço ao papel constitucional que exerce e ao papel institucional que tem como presidente do PMDB — o vice-presidente da República, Michel Temer, conspurque a própria biografia em uma conspiração para destruir a chapa pela qual se elegeu, ao trabalhar para derrubar a sua titular", afirmou o senador. "Seria um ato de ignorância sem tamanho, um suicídio político".
Costa voltou a apelar ao "consenso" e ao diálogo, e reiterou, como tem feito toda vez que sobe à tribuna, que o impeachment é "ilegítimo, ilegal e imoral". "Se Vossa Excelência sucumbir a essa vendeta em curso contra a presidente Dilma, estará levando o Brasil inteiro a ser tragado por uma maré de forte instabilidade, e o país e a sua biografia não merecem isso".
Ao reiterar que os militantes do partido e apoiadores de Dilma estarão nas ruas contra o que chama de "golpe", o senador aproveitou para convocar manifestação para o dia 31, "data em que se completam 52 anos de outro golpe, o de 1964", segundo ele.
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