• Briga entre advogados pró- impeachment e defensores do governo tomou a Câmara
Evandro Éboli, Isabel Braga e Manoel Ventura (*) - O Globo
BRASÍLIA - Advogados deixam a Câmara depois de a OAB protocolar novo pedido de impeachment da presidente Dilma. Houve tumulto até próximo do plenário após manifestantes pró- governo tentarem impedir que a documentação fosse registrada. - BRASÍLIA- A entrega pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de novo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ontem, na Câmara, transformou o Salão Verde — principal espaço de acesso do público à Casa — e também o lado de fora em palcos de discussões, batebocas e troca de socos e pontapés entre manifestantes dos dois lados. Dentro da Câmara, foi uma guerra de palavras de ordem. Do lado de fora, os grupos chegaram a brigar fisicamente. Um conjunto de advogados ligados à OAB compunha a claque pró- impeachment. Do lado pró-governo, estavam muitos servidores e funcionários da Câmara e de gabinetes de parlamentares do PT, do PSOL e do PCdoB. A confusão teve início quando o grupo pró- governo tentou impedir o acesso dos integrantes da OAB ao setor de protocolo da Câmara.
— A nossa bandeira jamais será vermelha — gritavam os anti-Dilma, e também provocam os servidores ligados aos partidos de esquerda: — Vão ter que trabalhar! — Lula ladrão! Os pró-Dilma devolviam com gritos de guerra: — A verdade é dura, a OAB apoiou a ditadura! — Fora golpistas! Fora coxinhas! Seguranças da Câmara chegaram a se posicionar entre os dois grupos. O presidente da OAB, Claudio Lamachia, precisou usar um elevador privativo de deputados para acessar o setor de protocolo, fugindo da confusão. Ao deixar a Câmara, preferiu não seguir de carro e foi levantado nos braços de seus colegas da OAB. Lamachia também segurou uma bandeira brasileira, e quando deixou os ombros dos amigos, disse próximo ao ouvido de um integrante do grupo, em conversa presenciada pelo GLOBO:
— Esses filhos da puta acham que vão me intimidar — afirmou. Depois, mais calmo, disse: — Esperamos serenidade, que as pessoas tenham calma, que esse ódio diminua.
Do lado de fora, houve troca de socos e de pontapés. O estudante da UnB Rodrigo Mateus Almeida, que estava junto com um grupo de universitários, se envolveu numa briga com um grupo de pessoas ligadas à OAB, que o acusaram de dar uma voadora em um deles. Rodrigo foi encurralado e, depois de o jogarem ao chão, levou socos e pontapés.
— Eles me agrediram primeiro. Apenas reagi — disse Rodrigo Almeida.
Os manifestantes da OAB disseram que foi o estudante quem começou a confusão.
— Foi você quem começou tudo, deixe de ser mentiroso — disse André Assis, ligado à OAB.
Na petição entregue ontem, a OAB faz duros ataques à atuação da presidente Dilma e a acusa de usar o cargo de forma permissiva e de praticar atos para se manter no poder. A OAB não se restringiu às acusações de supostas irregularidades cometidas por Dilma nas pedaladas fiscais e incluiu trechos da delação de Delcídio Amaral, classificando ainda de “açodada” a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. O documento também cita as gravações dos diálogos de conversa entre Dilma e Lula e a acusa de tentar assegurar fôro ao petista.
“O açodamento da Excelentíssima Senhora Presidente da República na nomeação do senhor Luiz Inácio Lula da Silva (...) destinado a acomodar seu aliado no posto de Ministro de Estado (...) Daí surge o questionamento: qual o interesse público relevante e inadiável a justificar uma edição extraordinária do Diário Oficial da União que teve como único propósito formalizar a nomeação de um ministro de estado? (...) A instituição Presidência da República foi utilizada para a satisfação de interesses outros que não aquele de matiz pública (...)”, diz o documento da OAB.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), foi irônico ao comentar o pedido de impeachment apresentado pela OAB. Antigo desafeto da instituição, Cunha afirmou que a OAB estava “atrasada”, que o novo pedido vai entrar na fila e que não poderá ser aditado ao que está em tramitação.
— São momentos diferentes, circunstâncias diferentes e pessoas diferentes. Agora a Ordem veio um pouquinho atrasada, o pedido de impeachment já está tratando aqui há muito tempo — disse Cunha. (* Estagiário sob a supervisão de Paulo Celso Pereira)
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