Os primeiros dias do governo interino de Michel Temer demonstram a encruzilhada onde o Brasil está paralisado.
Do ponto de vista da governabilidade, vivemos -país, Estados e municípios- autêntico regime de crônicos déficits, com dramática queda de receitas, imposta pela recessão profunda, contas estouradas e quase sem investimento.
Na maioria dos Estados, a situação geral é de enorme dificuldade. E até mesmo para aqueles que não frequentam, ainda, a proximidade do abismo há uma situação de grande penúria e frustração.
No plano nacional: déficit infinitamente maior do que o maquiado pela gestão Dilma Rousseff, que atinge quase duas centenas de bilhões.
Quando se sai das estatísticas para a realidade, o cenário é de terra arrasada. Obras paradas pelo país afora, crônica precarização dos serviços públicos, dificuldades imensas para fazer o básico.
Apesar do novo quadro político e a expectativa de distensão, o Brasil navega em mar de contínua incerteza, agravada pela realidade encontrada agora pela nova gestão.
Além de mergulhar na busca de superação dos impasses do Executivo, como o gigantismo da máquina, o uso partidário de recursos públicos e as duvidosas escolhas de prioridades, o governo deve se voltar para duas outras áreas: a sociedade e o Congresso.
Há na própria sociedade, nas universidades e em outros espaços, inúmeras iniciativas desenvolvidas por meio de parcerias, com resultados já testados, medidos e conhecidos, que podem ser ampliadas e, assim, colaborar para a busca de soluções para alguns dos problemas que enfrentamos.
Esse é o caminho para que a nossa sociedade organizada seja respeitada como protagonista, ao invés de ser vista apenas como massa de manobra a ser conquistada.
Além da alteração de ânimo que a simples mudança na Presidência já trouxe, é preciso, ainda, que o governo aponte de forma clara quais são as suas prioridades para a agenda legislativa deste ano. Dois projetos aprovados no Senado e aguardando votação na Câmara poderiam sinalizar de forma definitiva que está em curso no Brasil nova visão do Estado e de seu verdadeiro papel. Trata-se da governança das estatais e dos fundos de pensão, com a introdução de revolucionários instrumentos de eficiência e transparência e o resgate da meritocracia em substituição ao nefasto aparelhamento político a que foram submetidos nos últimos anos.
Com o respeito da opinião pública e de parte importante do Parlamento, que está ciente da gravidade da hora e de suas responsabilidades, talvez seja possível inaugurar a abertura de um ciclo novo, promissor. Onde se faça tudo o que precisa e é possível ser feito para salvar o país.
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Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB
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