Por Bruno Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA - O governo do presidente interino Michel Temer já começa a sentir a pressão de partidos aliados, que apoiaram o afastamento da presidente Dilma Rousseff, por distribuição de cargos a indicações políticas para o segundo escalão. Alguns parlamentares apontam um prazo para que as nomeações comecem a ser destravadas, até o fim desta semana, antes de se transformarem em realidade as ameaças de dificuldades para aprovar no Congresso propostas do governo.
De acordo com lideranças parlamentares aliadas do governo interino, na nova estruturação do Palácio do Planalto o presidente Temer tem feito apelos por apoio e ajuda no Congresso ao mesmo tempo em que parlamentares aliados pressionam por mais espaço na administração pública federal, inclusive representações regionais, cabendo aos ministros mais próximos de Temer - Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo - pedirem por "calma" e "paciência" para que o novo governo consiga ter mais "fluidez", após um início considerado conturbado.
O Palácio do Planalto também tem orientado aliados a buscarem resolver disputas partidárias internas antes de reivindicarem indicações políticas. Em algumas legendas, como no Solidariedade, as brigas intrapartidárias na busca por cargos intensificaram-se entre novos e antigos filiados, após a chamada "janela", que permitiu migrações partidárias sem perda de mandato.
A ameaça de rebelião feita por deputados, ainda restrita a alguns segmentos do chamado "centrão", como PP, PR, PRB e PTN, ocorre em um momento em que Temer precisa se dedicar a negociações envolvendo o Senado, onde o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff ainda será analisado em caráter definitivo. Uma liderança da nova base de apoio ao Palácio do Planalto ilustra a prioridade política dada neste momento aos senadores. Segundo ele, os ministros "palacianos" têm passado à frente de uma sala de espera inteira de deputados qualquer chamado vindo do Senado.
Outro exemplo do malabarismo político feito pelo Palácio do Planalto para contemplar inúmeros e diversos aliados, buscando a governabilidade, é a promessa de criação da Secretaria de Agricultura Familiar, para atender o Solidariedade, legenda sob a liderança do deputado Paulinho da Força (SP). Um dos mais atuantes apoiadores do impeachment da presidente Dilma, o deputado também tem sido o principal interlocutor do novo governo com o movimento sindical. A articulação do espaço para o partido ocorreu simultaneamente às tratativas para tentar avançar na reforma da Previdência, apontada como uma das prioridades do governo interino. A criação da secretaria, entretanto, ainda não saiu do papel.
Aliados de Temer também se queixam das indicações apresentadas por parlamentares cujos partidos negam, publicamente, busca por espaços no novo governo, como PSDB e DEM. Da parte do PMDB, partido de Temer, as queixas se destinam à concentração de poder sob Geddel, nome ao qual deputados pemedebistas já tinham restrições antes mesmo da alçada de Temer ao poder.
Na linha de frente da defesa do governo no Congresso, o discurso de paciência é reforçado pelas principais lideranças partidárias que têm atuado na busca de uma base sólida para Temer.
"A prioridade das bancadas é aprovar as medidas de ajuste para a recuperação da economia. Todos nós sabemos que esse início naturalmente exige um tempo para equacionamento de todas as demandas", disse o líder do PSD na Câmara, deputado Rogério Rosso (DF), que esteve ontem com Temer no Palácio do Jaburu.
"Não tem cabimento isso [pressão por cargos]. Não está na hora. Podemos até ter que passar por isso, mas não agora. O governo ainda tem poucos dias. Não é razoável, não pode ter esse tipo de discussão em um governo que ainda está em formação", disse o líder do PMDB, deputado Baleia Rossi (SP).
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