Desde as últimas eleições municipais, número de filiados cresceu 9% no Brasil
Tâmara Teixeira – O Tempo (MG)
A crise de representatividade que vive o país nos últimos anos não afastou o brasileiro dos partidos, ao contrário do que a princípio poderia se imaginar. Desde junho de 2012, ano da última eleição municipal, o número de filiados no país cresceu 9%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enquanto a evolução do eleitorado no período foi de 4%. Em Belo Horizonte, foi de 4,3% o aumento no número de filiados, e de 3,6% o avanço do eleitorado.
Essa evolução é vista com expectativa pelas legendas. É com esse plantel, que nas últimas eleições tiveram uma participação discreta, que os dirigentes contam para colocar a mão na massa, ou melhor, em bandeiras e santinhos para viabilizar as campanhas.
Os caciques acreditam, ou ao menos esperam, que a militância terá papel fundamental. Este será o primeiro ano em que as doações de empresas estão proibidas, o que, automaticamente, força o barateamento das disputas, eliminando, por exemplo, a contratação de cabos eleitorais, que nos últimos pleitos se tornou uma realidade indiscriminada, como admitem os políticos. O ano de 2016 é visto como o de resgate do trabalho voluntário.
O secretário geral do PSB de Minas, João Marcos Lobo, garante que os filiados da sigla estão dispostos a ir para as ruas, pegar em bandeiras e participar ativamente da campanha do pré-candidato a sucessor do prefeito Marcio Lacerda, Paulo Brant (PSB). Segundo Lobo, desde 1988 a legenda lança nomes para a chapa majoritária.
“Essa sequência ajudou a formar a militância”, diz. Segundo ele, ao menos três vezes por semana os filiados são convocados para encontros. “A realidade é diferente e todos já foram avisados. Vai ser o momento, inclusive, de essas pessoas ocuparem o espaço que têm”.
Para o deputado federal Reginaldo Lopes, nome do PT para a Prefeitura de Belo Horizonte, o aumento de filiados mostra que o cidadão está mais politizado. Lopes adianta que não vai contratar cabos eleitorais, prática equivocada em sua avaliação, mas que, segundo ele, o PT acabou aderindo.
“Vou fazer uma campanha de rompimento de modelo. É fundamental a maior participação da militância, principalmente com o debate de ideias. Também vou trabalhar com pequenas contribuições financeiras dos cidadãos, mas que para isso precisam acreditar no projeto.”
Os tucanos também estão empenhados em envolver mais os correligionários. Segundo o presidente do partido em Minas, o deputado federal Domingos Sávio, o PSDB investiu na implantação da “extranet tucana”, um sistema online para integrar a militância.
“Estamos pegando e-mail e WhatsApp de todos. Teremos uma rede tucana que vai ser importante na mobilização e na organização partidária. O diretório que não cadastrar todos os filiados, por exemplo, pode ter a direção suspensa”, explica.
O também deputado federal Rodrigo Pacheco, pré-candidato pelo PMDB ao Executivo da capital, avalia que, embora, o crescimento de filiações não seja tão significativo, há uma movimentação da sociedade.
“As pessoas que estavam fora tendem a entrar e fazer a política que desejam”, diz. Pacheco avalia que, com a limitação orçamentária, “a militância precisa ser não só quantitativa, mas qualitativa”.
Números
PSB. O total de filiados no PSB no Brasil saiu de 577.233, em junho de 2012, para 645.778. Em Belo Horizonte, o total de membros inscritos no partido do prefeito Marcio Lacerda saltou de 3.386, há quatro anos, para 3.999 neste ano.
Esquerda. Entre os dez maiores partidos do Brasil, os dois de esquerda que aparecem na lista, PT e PCdoB, foram os que mais cresceram em número de filiados na capital mineira. O PT aumentou a militância em 5%, e o PCdoB, em 11%, desde o ano de 2012.
Privilégio e clima de polarização atraem
Para o cientista político Michael Mohallem, da Fundação Getúlio Vargas, algumas razões explicam o aumento de filiações diante da desilusão política, como o crescimento do número de siglas: 35, ante os 30 de 2012.
“Com a perspectiva do fim do financiamento empresarial, no ano passado, muitos partidos investiram em filiações, fonte de arrecadação, mas também alguém que pode contribui na campanha. Isso pode ter tido efeito, ainda que pequeno”, diz.
Ele avalia ainda que as legendas são canais de poder. “A lógica de muitas pessoas é clientelista. A filiação é uma forma de chegar ao Estado, nem que seja para ter atendimento mais rápido no hospital. A filiação cria canais de pequenos privilégios que as pessoas não veem como corrupção”.
O cientista político aponta outro fator: a polarização. “Pessoas que militavam, entraram para o partido. Diante da radicalização, decidiram atuar mais”. (TT)
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