• Na reta final, Temer deu sinal verde a ministros para derrotar Castro Para um auxiliar do governo, seria ruim se as manchetes dissessem que o candidato vencedor votara contra o impeachment
Catarina Alencastro, Eduardo Bresciani, Isabel Braga e Júnia Gama - O Globo
-BRASÍLIA- O governo Temer atuou desde as primeiras horas de ontem para esvaziar a candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI). Ministro da presidente afastada, Dilma Rousseff, contrário ao impeachment, Castro não chegou sequer ao segundo turno: acabou ficando em terceiro lugar, com 70 votos.
Apesar do cuidado nos últimos dias para não interferir na disputa na Câmara e acirrar os ânimos em sua base, o Planalto avaliou que a vitória de Castro seria ruim. Por isso, deu sinal verde para que os ministros mais próximos do presidente interino, Michel Temer, entrassem em campo a partir da noite de anteontem.
Sem Castro, o resultado do primeiro turno agradou ao governo. Rodrigo Maia (DEMRJ), ligado à antiga oposição, e Rogério Rosso (PSD-DF), representante do centrão e próximo a Eduardo Cunha, tiveram atuação intensa a favor do impeachment de Dilma e representam as duas principais alas da base de Temer. O líder do PMDB, Baleia Rossi, interlocutor de Temer, resumiu a posição da base do governo.
— Os dois candidatos são da base — disse ele. RELATOS AO PÉ DO OUVIDO Castro tinha como sua principal base eleitoral os deputados do PT. Ministros, assessores e deputados ligados a Temer fizeram telefonemas durante todo o dia alertando sobre as possíveis consequências negativas da eleição de Castro. Nas contas desses articuladores, na bancada de 66 deputados do PMDB pelo menos a metade teria sido demovida da ideia de votar em Castro.
Na reunião com a Confederação Nacional dos Municípios, ontem de manhã, no Palácio do Planalto, Temer chegou atrasado e passou a maior parte da cerimônia recebendo relatos ao pé de ouvido do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que lhe mostrava mensagens no celular.
— Seria uma mensagem ruim ter todas as manchetes estampando que venceu na Câmara o candidato que era contra o impeachment, contra o governo Temer. A posição oficial do Planalto é não interferir, mas o presidente disse para fazermos uma avaliação e tomarmos as providências que considerarmos cabíveis — disse um auxiliar do governo.
A primeira providência de Temer será receber hoje o vencedor. O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, foi orientado a não ir ao Congresso durante a eleição e a não se posicionar a favor de nenhum candidato. Encarregado das articulações políticas do governo, ele vinha sendo acusado por parlamentares de trabalhar por Rosso. Geddel monitorou, por meio de telefonemas, as negociações. Padilha foi mais cedo ao Congresso, de onde saiu no início da tarde, antes da eleição.
Símbolo de insatisfação
A candidatura derrotada de Castro foi vista no Planalto como símbolo da insatisfação de parte do PMDB com o governo. Integrantes do partido se queixam de que demandas do centrão têm recebido mais atenção. Dizem que Jovair Arantes (PTB-GO) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) têm conseguido emplacar indicações, enquanto os pedidos de peemedebistas não andam.
— O governo vai ter que pensar, daqui para frente, em como resolver sua relação com o partido — avalia outro auxiliar de Temer.
Antes mesmo do resultado, Rosso já contabilizava uma derrota por 30 votos.
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