A atividade econômica tem mostrado sinais de estabilização, após um longo e doloroso período recessivo. A avaliação dominante é de que uma retomada tende a começar em alguns meses, aproveitando a combinação de grande ociosidade na economia, melhora gradual da confiança de empresários e consumidores e queda dos juros em algum momento do segundo semestre. Os mais otimistas consideram possível uma expansão de 2% ou até um pouco mais no ano que vem.
O processo de estabilização e retomada, porém, não deverá ser linear, como mostrou a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de maio, divulgada ontem. O resultado das vendas no varejo de maio surpreendeu os analistas. As vendas no varejo restrito (que não incluem automóveis, autopeças e material de construção) caíram 1% em relação a abril, na série com ajuste sazonal, um desempenho bem pior que a alta de 0,4% projetada pelos analistas ouvidos pelo Valor Data. A produção industrial de maio, por sua vez, ficou estável na comparação com o mês anterior, depois de ter subido 1,4% em março e 0,2% em abril.
A verdade é que a economia brasileira ainda se encontra em situação bastante delicada, com um quadro bastante negativo especialmente no mercado de trabalho. Na média dos três meses até maio, a taxa de desemprego ficou em 11,2%, bem acima dos 8,1% registrados no mesmo período de 2015. Com desocupação em alta e renda em queda, há limitações para melhora das vendas no varejo, ainda que o consumidor tenha se mostrado um pouco mais confiante nos últimos dois meses.
Apesar disso, vários indicadores sugerem de fato acomodação da atividade - é o caso da própria produção industrial, que há três meses não registra queda em relação ao mês imediatamente anterior. Depois de dois anos de recessão, o fundo do poço parece ter sido atingido.
Um dos sinais mais importantes para a retomada é a melhora da confiança que tem ocorrido nos últimos meses. Empresários e consumidores começam a se mostrar um pouco mais confiantes, embora os índices ainda estejam em níveis bastante baixos. Embora a percepção sobre a situação continue bastante negativa, as expectativas em relação aos próximos meses têm registrado uma melhora razoável. A troca de governo e a avaliação de que a nova administração poderá reverter o quadro de descalabro fiscal ajudaram nesse processo.
A queda dos juros também deve dar fôlego à retomada. Com a inflação em queda, o Banco Central (BC) terá espaço para cortar a Selic no segundo semestre, como aposta a maior parte dos analistas. A determinação do presidente do BC, Ilan Goldfajn, de levar a inflação em 2017 para o nível da meta, de 4,5%, pode adiar um pouco a redução dos juros, mas a avaliação é que ela deverá começar provavelmente em outubro.
Alguns economistas veem espaço para a Selic, hoje em 14,25% ao ano, cair abaixo de dois dígitos no ano que vem. Há quem acredite que, ao demorar um pouco mais para começar a cortar os juros, o BC poderá promover um ciclo mais longo de afrouxamento monetário, beneficiando-se de uma melhor coordenação das expectativas inflacionárias.
Com a continuidade da melhora da confiança e a redução dos juros, a economia deverá entrar no processo de recuperação cíclica, crescendo em cima da elevada ociosidade. Na indústria, o nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) ficou em 73,9% em junho, segundo números da Fundação Getulio Vargas (FGV), um resultado bastante abaixo da média dos últimos 60 meses, de 80,1%, na série com ajuste sazonal. No mercado de trabalho, há 11,4 milhões de desempregados, número que deve aumentar nos próximos meses. Há espaço, como se vê, para a economia crescer sem pressionar a inflação por um bom tempo.
Para os mais otimistas, o PIB pode crescer 2% ou um pouco mais no ano que vem, um desempenho que vai se dever em boa parte ao resultado favorável do setor externo. A mediana das projeções dos analistas consultados pelo BC apontam um crescimento mais modesto em 2017, de 1%. A aposta generalizada, porém, é de que o país deverá começar em breve a recuperação, virando enfim a página de uma recessão profunda, que derrubou o PIB em 3,8% no ano passado e deve fazer a economia encolher mais de 3% neste ano.
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