• Apoiado por PSDB e outras siglas da antiga oposição, deputado do DEM é eleito presidente da Câmara para mandato-tampão; resultado final foi recebido aos gritos de ‘Fora, Cunha’
Erich Decat, Isabela Bonfim, Julia Lindner, Pedro Venceslau, Ricardo Brito, Tânia Monteiro e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Com a ajuda do Palácio do Planalto e da antiga oposição, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito na madrugada desta quinta-feira presidente da Câmara para um mandato-tampão até fevereiro de 2017. Com 285 votos no segundo turno, ele derrotou o candidato Rogério Rosso (PSD-DF), do Centrão, bloco formado por 13 partidos e aliado do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao cargo na quinta-feira passada. Foram 170 votos para Rosso e cinco brancos. Ao ser anunciado o resultado, deputados gritaram “Fora Cunha”.
Maia recebeu apoio formal do grupo PSDB, DEM, PPS e PSB e representa a volta do antigo PFL ao cargo que o partido ocupou de 1993 a 1997 com Inocêncio de Oliveira e Luís Eduardo Magalhães. Mais cedo, o Planalto atuou para esvaziar a candidatura do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), que foi ministro da presidente afastada Dilma Rousseff e tentou viabilizar sua candidatura tendo como base o PT, PDT e PCdoB, partidos de oposição a Michel Temer. A ação deu certo: Castro ficou em terceiro lugar, com 70 votos.
Em seu discurso final, Maia fez aceno tanto para tucanos como para petistas ao citar José Serra e José Genoino. Já Rosso pregou união da base de Temer e abriu mão de parte de seu discurso para dar um abraço em Maia na tribuna.
Após a confirmação da vitória, o deputado do DEM falou de maneira conciliadora. “Temos que pacificar esse plenário, temos que dialogar. A maioria precisa dialogar com a minoria”, disse Maia.
A eleição do presidente da Câmara define uma figura central para os próximos passos do governo. Além de ser o primeiro na linha sucessória de Temer, o substituto de Cunha terá poder para acelerar ou atrapalhar o processo de cassação do peemedebista e as votações de projetos importantes para o ajuste fiscal do governo. Além disso, pode decidir sobre a abertura ou não de processo de impeachment contra Temer, que tramita na Casa.
Negociações. Na virada do primeiro para o segundo turno, os dois finalistas tiveram uma hora para somar votos. Neste período, houve muita correria pelos corredores da Casa em busca de apoio principalmente dos partidos que tiveram candidatos no primeiro turno. Logo após divulgado o resultado do primeiro turno, Castro declarou apoio à candidatura de Rosso. Na mesma linha foi o deputado Carlos Manato (SD-ES) que recebeu 10 votos na disputa pelo comando da Câmara. “Sou Rosso desde pequeno”, afirmou.
Rosso partiu num corpo a corpo em busca de apoio de outros partidos do Centrão. Nas conversas contou apenas com declarações de voto do líder do PP, Aguinaldo Ribeiro. No mesmo momento em que Ribeiro anunciava seu apoio, parte da bancada do PP se reunia com Maia.
A antiga oposição concentrou-se primeiro em consolidar votos no PT, PCdoB, PDT e conseguiu amarrar esses apoios. Maia e seus aliados passaram então a focar na difusa bancada peemedebista e nos “dissidentes” do centrão. O PMDB optou por ficar oficialmente neutro.
Interferência. Durante o dia, o governo trabalhou para fortalecer os dois principais grupos da base. Tentou unificar o Centrão em torno de Rosso e ajudar a candidatura de Maia. No primeiro turno, foram 14 candidaturas. Apesar do discurso oficial de que não iria interferir, Temer incumbiu os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, além do secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco (sogro de Maia), de negociar com os deputados.
Em conversas reservadas, parlamentares afirmam que até promessas de nomeação para o Ministério do Turismo – antiga reivindicação do PMDB de Minas – e para cargos em diretorias de empresas do setor elétrico, como Furnas e Chesf, teriam entrado na lista de ofertas.
Temer deverá receber Maia nesta quinta-feira no Palácio do Planalto. /
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