Em pronunciamentos feitos na última sexta-feira no mais prestigiado encontro de especialistas em política monetária do mundo, em Jackson Hole, os dois principais dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) reforçaram as indicações de que a alta dos juros americanos está a caminho.
No Brasil, a reação foi imediata. O juros negociados em mercado subiram, chegando aos maiores percentuais desde o começo de julho. O dólar teve a mais forte alta dos últimos dez pregões. Esse é mais um lembrete de que as condições financeiras extremamente relaxadas no mundo são temporárias - e que, em breve, deverá acabar o período de calmaria que permitiria ao Brasil aprovar, sem maiores crises e atropelos, o ajuste fiscal e outras reformas.
Em Jackson Hole, a presidente do Fed, Janet Yellen, disse que o banco central americano está próximo de seu objetivo estatutário de máximo emprego e estabilidade monetária. "Acredito que os argumentos para uma alta de juros se fortaleceram nos últimos meses." Em entrevista à emissora de tevê americana CNBC, o vice-presidente do Fed, Stanley Fischer, disse que o pronunciamento de Yellen é consistente com até duas altas na taxa básica de juros ainda neste ano.
Outros membros do comitê de política monetária do Fed, o chamado Fomc, já haviam dado sinais de que cogitavam uma alta de juros até mesmo na sua próxima reunião, em fins de setembro. A própria ata do Fomc, divulgada na semana passada, colocava essa possibilidade sobre a mesa. Agora, com as declarações das duas principais autoridades do colegiado, essa hipótese se torna mais palpável.
Para o Brasil, isso significa que está se fechando uma janela que permitiria o ajuste econômico se acomodar ao tempo político, que incluia primeiro o julgamento do impeachment e, com mais uma dose cavalar de paciência, as eleições municipais.
Os mercados viveram um período de otimismo depois do afastamento da presidente Dilma Rousseff, contribuindo dessa forma para certa leniência do Congresso e do próprio Executivo em propor e aprovar medidas de ajuste. Mas é uma ilusão achar que esse ambiente ameno, que inclui o fortalecimento de nossa moeda e a queda dos prêmios de riscos, represente um inabalável voto de confiança dos mercados ao governo interino de Michel Temer.
O ambiente internacional ajudou bastante. Mesmo antes do afastamento da presidente Dilma Rousseff, o real já vinha se fortalecendo. O Fed interrompera, em janeiro, o seu ciclo de normalização monetária, devido aos sinais de debilidade da economia mundial. A saída da Grã-Bretanha da União Europeia, o chamado Brexit, provocou novo adiamento na alta de juros, que o mercado financeiro chegou a precificar para ocorrer em julho.
Agora, é mais do que urgente readequar o tempo político aos riscos para o Brasil de um aperto monetário nos Estados Unidos. Embora Japão e Europa sigam com seus planos monetários expansionistas, a nossa economia está sobretudo na órbita do dólar. Por mais gradual, organizado e preanunciado que seja o processo de aperto do Federal Reserve, teremos volatilidade nos mercados emergentes e fuga de capitais de todo o mundo para os Estados Unidos.
A mudança de ventos no cenário internacional ocorre em um momento particularmente crítico, em que a lua de mel do mercado com o presidente Temer está em questão. Muitos acham que poderá terminar após a votação definitiva do impeachment, nesta semana. Concessões do governo que antes eram vistas como necessárias para garantir governabilidade passarão a ser entendidas, a partir de então, como sinais de descontrole da política fiscal..
Em entrevista à jornalista Claudia Safatle, do Valor (26/7), o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, renovou o compromisso com a aprovação da emenda constitucional que congela os gastos do governo em termos reais, sem a qual "o Estado ficará inviável". Ele descartou abrir exceções, seja em gastos com educação, saúde ou qualquer outra área.
O diagnóstico está correto. A questão é se o governo terá força e vontade para impô-lo à sua base de apoio no Congresso. As fissuras ficaram evidentes nas discussões sobre o reajuste do funcionalismo, com concessões incompatíveis com o sacrifícios exigidos dos trabalhadores do setor privado.
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