Daniela Lima – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Na véspera do discurso de defesa de Dilma Rousseff no Senado, a presidente afastada disse em telefonema a senadores aliados que está "segura" e que ficará no plenário "até o horário necessário" -47 senadores já se inscreveram para lhe fazer questões.
O ex-presidente Lula chegou no fim da tarde de domingo (28) a Brasília para se reunir com Dilma e acertar detalhes do discurso. Ele foi ao Alvorada jantar com a presidente afastada e aliados, como o presidente do PT, Rui Falcão.
Parlamentares de partidos como o PSDB, DEM e PP, por sua vez, se reuniram para definir uma estratégia. A ideia é priorizar o embate sobre aspectos técnicos que circundam o impeachment e tratar Dilma com tom respeitoso.
Mas ninguém garante que esse roteiro seguirá sem desvio. "É a presidente quem vai dar o tom", resumiu o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Há grande preocupação em não dar a Dilma a chance de se "vitimizar". "Agora, se o tom da presidente for outro, obviamente a reação será à altura", concluiu Aécio.
Líderes dos partidos orientaram senadores a manterem tom cerimonioso. "Dilma vai jogar com emoção para tentar conquistar algum voto, mas esse jogo está jogado e só resta a ela a vitimologia, argumentos não existem", disse Agripino Maia (DEM-RN).
"A ordem é distribuir 'maracugina' para todo mundo e evitar a criação de fatos novos, sem cair em provocação."
Senadores adversários do PT não querem arcar com o ônus de protagonizar ataques pessoais à petista sem um precedente.
"Agora, lá em Goiás temos um ditado que diz que o risco que corre o pau, corre o machado", disse Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Apesar da expectativa em torno do encontro com Dilma, a oposição minimizou o impacto de sua fala sobre os colegas de plenário. "Acho que todos chegarão aqui na segunda sabendo que botão apertar na votação", disse Aécio.
Dilma chegará ao Senado de manhã —sua fala está marcada para 9h— com o advogado de defesa, ex-ministro José Eduardo Cardozo.
Será recepcionada pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que ofereceu seu gabinete para ela se concentrar antes de entrar em cena.
Há grande expectativa sobre quem acompanhará a fala da petista no local. Entre os convidados estão Lula e o compositor Chico Buarque.
Eles podem se deparar com líderes de grupos anti-PT. A lista da acusação, entregue pela advogada Janaína Paschoal, coautora do pedido de afastamento, tem 30 nomes, como os de Kim Kataguiri (Movimento Brasil Livre), Rogério Chequer (Vem pra Rua) e Carla Zambelli (Nas Ruas).
Chico, aliás, virou alvo de gracejos dos antipetistas. Neste domingo, perguntado sobre que tema dedicaria ao cantor na sessão, Caiado cantarolou "amanhã vai ser outro dia".
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