segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Mudança em BH favorece grupo aecista

Por Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico

BELO HORIZONTE - Uma reviravolta na campanha para prefeito de Belo Horizonte surpreendeu o meio político em Minas Gerais no fim de semana. O atual prefeito, Marcio Lacerda (PSB), desistiu na sexta-feira à noite de apoiar o economista Paulo Brant, nome que havia sido oficializado pelo partido e por ele dias antes. Délio Malheiros (PSD), vice-prefeito, foi escolhido para substituí-lo. Malheiros vai disputar contra candidatos do PSDB, PT, PMDB e outros, num quadro ainda sem favoritos claros.

O movimento de Lacerda foi imediatamente atribuído a um acerto às escondidas entre ele e o grupo do senador mineiro Aécio Neves e presidente nacional do PSDB. A combinação envolveria apoio dos tucanos a Lacerda em 2018, quando ele teria duas opções a seguir: candidatar-se a governador de Minas ou a senador. O PSDB disse em nota que não teve qualquer participação na mudança no candidato de Lacerda.

O grupo do prefeito alegou duas razões. A primeira uma guerra surda entre ele e Aécio por apoios de outros partidos. Cada um tentava atrair o maior número de legendas para seu candidato. Brant era o nome de Lacerda; e o deputado estadual João Leite, o candidato de Aécio - que tem o maior tempo de TV.

Quem saiu ganhando foi Aécio e seu grupo, que atraiu para seu campo partidos com quem Lacerda negociava. O PMDB também entrou na briga. No fim, o prefeito não conseguiu a aliança com PDT, PSD, PRB, Solidariedade e PTB.

Brant precisava de tempo de TV. Ele é um total desconhecido do eleitor. Nunca disputou uma eleição. Nos últimos anos, foi diretor presidente da Cenibra, fabricante de celulose de capital japonês e base e negócios em Minas. Lacerda havia dito que precisava de dois minutos ao menos em cada bloco de 10 minutos da propaganda gratuita para que os belorizontinos conhecessem o executivo-candidato. Mas, no fim conseguiu apenas cerca de 40 segundos. Mesmo assim, segundo Brant disse aoValor, ambos decidiram manter a aposta.

Na sexta-feira à noite, quando fazia sua despedida informal dos colegas de empresa em um restaurante de Belo Horizonte, Brant disse que foi procurado por um auxiliar do prefeito dizendo que este havia desistido de sua candidatura. "O mínimo que um homem de caráter deveria ter feito era ter me dito pessoalmente isso. Foi uma atitude de moleque. Fiquei estupefato com a canalhice. Tudo por conta de um acordo para 2018."

Lacerda não comentou a decisão. Mas além do pouco tempo de TV, o prefeito argumentou que uma punição recebida por Brant enterraria de vez suas chances. A punição foi dada pelo Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN), do Ministério da Fazenda. Ele foi considerado responsável por "infração grave na condução dos interesses do Bemge caracterizada pela inobservância às normas de boa gestão e de boa técnica bancária". Brant foi punido a ficar nove anos inabilitado de fazer operações no mercado financeiro em atividades com interação com Banco Central. O caso envolveu uma longa lista de outros executivos do banco e se arrastou por anos. A decisão saiu em dezembro e no grupo de Lacerda a informação é que só na sexta-feira o prefeito tomou conhecimento completo da decisão e que ela passou a ser vista como um problema. Munição fácil para adversários.

Com a mudança, Délio Malheiros ganhou a candidatura. E trouxe consigo o PSD e o Solidariedade. Terá, segundo os cálculos do PSB de Lacerda, quase dois minutos na TV. O terceiro maior tempo. Malheiros disse que sua candidatura não serve a nenhuma outra e que ele vai defender as iniciativas da atual gestão. Advogado, Malheiros, foi vereador e deputado estadual. É vice-prefeito de Belo Horizonte e nunca escondeu sua ambição de ser prefeito. Tem boas relações com tucanos mineiros e isso alimenta especulações que sua candidatura tende a ser amistosa em relação ao candidato de Aécio e que num eventual segundo turno entre o tucano e o outro candidato que não Malheiros, este penderia naturalmente para o candidato de Aécio.

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