Nas negociações para a delação premiada, executivos da Odebrecht disseram à força-tarefa da Lava-Jato que darão detalhes sobre como abasteceram campanhas eleitorais do PSDB em 2010 por caixa dois.
Delação da Odebrecht mira PSDB e Serra
• Executivos prometem revelar como caixa dois abasteceu campanhas eleitorais do partido em 2010
-SÃO PAULO- Os executivos da Odebrecht prometeram aos investigadores da força tarefa da LavaJato detalhar como o caixa dois da empresa abasteceu as campanhas eleitorais do PSDB em 2010. A informação foi publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo” e confirmada pelo GLOBO junto a pessoas que acompanham de perto as negociações.
De acordo com o jornal, os repasses teriam ido para o hoje ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), que concorreu à Presidência da República, em 2010, contra a presidente afastada Dilma Rousseff (PT). Ele teria recebido ilegalmente R$ 23 milhões. O GLOBO não conseguiu confirmar a citação ao tucano e esses valores.
Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral, o valor que teria sido repassado ilicitamente ao tucano representa dez vezes mais do que o doado oficialmente para o Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República de Serra em 2010, que totalizava R$ 2,4 milhões. Para comprovar que houve o pagamento por meio de caixa dois, segundo a “Folha”, a Odebrecht vai apresentar extratos bancários de depósitos realizados fora do país que tinham como destinatária final a campanha presidencial do tucano. O ministro era apelidado na contabilidade paralela da empresa de “vizinho” e “careca”.
Anastasia também teria sido citado
A delação da Odebrecht, segundo o jornal, também envolverá a construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas. A obra aparece em um das planilhas apreendidas durante a 23ª fase da Lava-Jato. A construtora teria pago a pessoas ligadas a Serra que participaram do projeto. As obras do Rodoanel já apareceram na Lava-Jato. Os investigadores apuram repasses de propina em contratos do trecho norte do anel viário.
Não é a primeira vez que um político tucano aparece nas negociações entre a Odebrecht e a Lava-Jato. O GLOBO revelou, no final de julho, que os executivos da empresa prometem relatar repasses a campanhas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ontem, o colunista Lauro Jardim revelou que o ex- governador mineiro e hoje senador Antônio Anastasia também teria sido citado. O senador tucano aparece nas negociações para a delação também como destinatário de caixa dois em uma de suas campanhas. O nome dos dois estão entre os 13 governadores e 35 senadores já listados pela construtora na negociação da delação.
Quem também pode aparecer na delação da construtora é o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014. O tucano era o presidente do partido no período quando teria ocorrido os pagamentos ilícitos à Serra. Na semana passada, a Polícia Federal iniciou uma nova fase da Lava-Jato que investiga a participação do tucano no esquema de corrupção da Petrobras.
Os investigadores vão apurar se a construtora Queiroz Galvão pagou propina a Guerra em troca de uma operação para abafar a CPI da Petrobras, em 2009. A Polícia Federal teve acesso a uma reunião entre o tucano, o então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e empreiteiros onde foi negociado o fim das investigações no Congresso. Guerra é flagrado por uma câmera de segurança negociando o recebimento de R$ 10 milhões. Guerra afirma aos presentes ao encontro que tinha “horror à CPI”.
Os dados dos repasses ao PSDB e a outros partidos estão em documentos que a construtora começou a reunir do Setor de Operações Estruturadas. As informações são o ponto-chave das negociações da Odebrecht com a força tarefa. Os investigadores querem acesso irrestrito aos dados e às transações do setor, que ficou conhecido como a “diretoria da propina”. Eles querem também extratos de contas da empresa no Meinl Bank Antigua, localizado em Antigua. O banco era controlado por operadores ligados à construtora e pode ter sido usado para ocultar propinas pagas a políticos no exterior.
Nas últimas semanas, investigadores ouviram dezenas de executivos da empresa em Curitiba e Brasília durante mais uma etapa da negociação do acordo de colaboração com a Odebrecht. Desde abril, advogados da construtora negociam os termos do acordo que pode ter mais 90 anexos e envolver 51 executivos e gerentes do grupo.
Além de Marcelo Odebrecht, que falou por cerca de dez horas aos investigadores na sede da Polícia Federal na última quinta-feira, estiveram em Curitiba o ex-diretor-presidente da construtora Odebrecht, Benedito Barbosa da Silva Junior, e o ex-executivo Alexandrino Alencar. Os dois, que estão soltos, participaram de uma espécie de entrevista na sede do Ministério Público Federal. Na conversa, eles teriam relatado aos investigadores o que podem falar em delação. Foi com Benedito que os investigadores acharam uma lista com o nome de mais de 200 políticos que teriam recebido valores da empresa nos últimos 20 anos. Ele chegou a ser preso na Lava-Jato, mas foi solto pela Justiça.
Os acordos de delação de Marcelo Odebrecht e de outros executivos da empresa são os mais esperados da Operação Lava-Jato. Maior empreiteira do país, a Odebrecht tem obras e contratos com a administração pública dos três Poderes, e em praticamente todos os estados do país. Só no ano passado, a empresa faturou mais de R$ 130 bilhões com negócios no Brasil e no exterior. Depois de uma primeira etapa complicada, com avanços e recuos, os acordos avançaram nas últimas semanas de forma significativa. Após acertos prévios com advogados, os procuradores começaram a ouvir os executivos para saber quem está apto a fazer o acordo e que assuntos interessam.
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