• Bilhões foram gastos num projeto de baixo retorno, enquanto laboratórios estavam à míngua
Na desmontagem do regime de relativo equilíbrio fiscal brasileiro, a partir do fim do segundo mandato de Lula e concluída com Dilma, era certo que, cedo ou tarde, a política do “novo marco macroeconômico” desestruturaria programas sociais. Por ironia, o “novo marco” era colocado a serviço dos pobres, no discurso político-ideológico. Funcionou ao contrário, como previsto.
As famílias de renda mais baixa seriam atingidas pela subida da inflação — e ela ocorreu — e também pelo desemprego decorrente da recessão causada pela própria política de gastos públicos sem medida, causa da retração nos investimentos. Diante da escalada de gastos, a solvência do Tesouro foi, e está, posta em dúvida, circunstância em que todos se retraem. Investidores e consumidores, estes açoitados por uma taxa de desemprego que entrou na faixa dos dois dígitos.
O programa Ciência sem Fronteiras, uma das fontes prediletas de inspiração para os discursos da campanha à reeleição de Dilma, quase sempre em tom demagógico, também não resistiu à tempestade.
O governo Michel Temer resolveu suspendêlo, por motivos claros e irrefutáveis: muito dinheiro gasto para um retorno questionável, e num momento em que os campi das universidades federais estão próximos à bancarrota, com laboratórios em dificuldades e programas importantes de pós-graduação à míngua.
Crise fiscal implica fazerem-se escolhas. E a melhor, no caso, é suspender o CsF, no qual, desde 2011, foram gastos R$ 8,4 bilhões em mais de 100 mil bolsas no exterior, de graduação e pós, em universidades de 54 países.
Como era norma nos governos do PT, não se conhece qualquer avaliação séria do CsF. Há, porém, indicações de que o retorno do programa para a sociedade — quem paga esta e todas as demais despesas do Estado — não foi grande coisa. Logo na primeira fase do programa, surgiram relatos sobre alunos bolsistas sem proficiência na língua do país onde fora estudar. Um desatino, mas tudo era válido em nome da “justiça social”.
Foi criticado, também, que o CsF concedesse até bolsas para graduação, quando o país necessita é de pós-graduados. A proporção de 80% dos bolsistas foi para a graduação.
Entre as fragilidades do CsF também está a própria qualidade de ensino das universidades para as quais se destinou a grande maioria dos bolsistas.
Segundo a “Folha de S.Paulo”, menos de 4% dos alunos se dirigiram a alguma das 25 melhores universidades do mundo, na avaliação do ranking THE (Times Higher Education), britânico. Muito pouco, para tanto dinheiro.
O momento de séria escassez de recursos é outro fator decisivo para o corte do CsF. Cada bolsista, segundo o ministro da Educação, custou aos cofres públicos R$ 105 mil por ano. Uma despesa que serviu mais de instrumento de propaganda lulopetista do que de mecanismo efetivo de aprimoramento da qualificação de jovens brasileiros.
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