Após longos 15 meses em que manteve a taxa básica de juros da economia (Selic) nos mesmos 14,25%, o Banco Central parece não ter dúvidas de que deve começar a cortá-la nesta quarta-feira (19).
Espera-se que a redução inicial —estimada em no máximo 0,5 ponto— seja apenas a primeira de uma série. Se o governo ajudar a criar as condições necessárias, o BC poderá pretender uma taxa sustentável de um dígito. Para o momento, estão dadas as circunstâncias para o início desse novo ciclo.
De um lado, há tendência clara de queda da inflação de alimentos e de itens sujeitos à concorrência internacional. Ademais, embora incipiente, também é discernível a perda de ímpeto do preço de segmentos que costumam mostrar maior inércia, como o setor de serviços.
De outro, a imprescindível busca pelo ajuste das contas públicas ganhou um reforço com a aprovação na Câmara, em primeiro turno, da proposta que limita o crescimento dos gastos federais. A medida ainda passará por novas votações, mas sua tramitação já empresta alguma credibilidade às promessas de equilíbrio orçamentário.
A diminuição da taxa Selic decerto não será uma panaceia para todos os males da economia brasileira. Aos poucos, contudo, os juros menores afrouxarão o torniquete financeiro que hoje aflige as empresas, facilitando a retomada do crédito e da produção.
Tendo em vista o colapso do consumo e a degradação do mercado de trabalho, um estímulo aos investimentos pode ser decisivo para o país sair da crise mais depressa.
Será lamentável, porém, se a Selic cair apenas para subir nos próximos anos, quando a economia recuperar o fôlego. O Brasil precisa escapar desse roteiro que o mantém preso a uma taxa exorbitante. O patamar que se deve almejar é o de juros reais (descontada a inflação) próximos a 2% —hoje eles estão em torno de 7%.
Não será com uma canetada, obviamente, que se implementará tal mudança. Serão necessárias diversas reformas para o Brasil chegar a um padrão civilizado —mas talvez nenhuma seja mais importante do que o conjunto de iniciativas destinadas a estancar a deterioração das finanças do Estado.
Na experiência nacional, o descontrole das contas tem provocado inflação; esta, por sua vez, sempre desencadeou a indexação de contratos como mecanismo de defesa. Desse ciclo vicioso resulta a inflação resistente e superior ao padrão global —e, com ela, os juros altos.
A normalização permanente da Selic depende da manutenção da inflação em níveis baixos por tempo suficiente para a população confiar na proteção do poder de compra da moeda.
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