- O Globo
Mesmo com um apoio no Congresso que chega a 80% dos deputados e senadores, o presidente Michel Temer tem uma relação ambígua com seus aliados. Enquanto os parlamentares vivem às voltas com seu eleitorado, e por isso evitam apoiar medidas impopulares, o presidente tem obrigatoriamente um olhar de mais longo prazo, pois, no momento, não está em condições de almejar uma vida política além de 2018.
Mas mesmo que, embora já tenha declarado publicamente que não será candidato à reeleição, no fundo faça planos futuros, seu destino, ao contrário dos seus apoiadores, depende muito mais de medidas impopulares. Quem pela primeira vez decifrou o desafio reverso que está à frente do presidente Temer foi o publicitário Nizan Guanaes, que aproveitou uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) para pedir que aproveite a baixa popularidade de seu governo para fazer reformas impopulares. “Popularidade é uma jaula. O senhor tem que puxar isso para o senhor e falar à Nação”.
Tais medidas, como as reformas da Previdência e Trabalhista, dando certo, poderão fazer a economia voltar a crescer e proporcionar novo fôlego ao governo Temer, que hoje padece de uma popularidade abaixo de dois dígitos.
Se não lograrem efeito, só ratificarão a falta de popularidade do governo, e Temer passará pelo inferno político que o ex-presidente Sarney passou ao fim de seu governo. Foi o alvo preferido dos candidatos à sua sucessão, numa campanha tão violenta verbalmente quanto provavelmente será a do próximo ano.
Temer parece ter gostado dos conselhos de Nizan e, recentemente, em conversa com jornalistas no Palácio da Alvorada, disse que está aproveitando a impopularidade de seu governo para tomar medidas que, na sua avaliação, são “necessárias ao país”. “Um governo com popularidade extraordinária não poderia tomar medidas impopulares”, afirmou.
Temer, parafraseando Nizan Guanaes, tem dito que está “preso na jaula da impopularidade” e vai aproveitar essa prisão para acelerar “as reformas de que o país precisa”. Temer não é um tipo carismático de político, tem vencido mais pela capacidade de articulação nos bastidores. E quase não se reelege deputado federal antes de tornar-se vice-presidente.
No entanto, foi presidente do PMDB durante vários anos, eé o único que consegue, sobretudo no exercício presidencial, unificar as diversas alas do maior partido brasileiro. A relação ambígua com a base aliada se revela principalmente na reforma da Previdência e, mais imediatamente, nas contrapartidas que está exigindo dos estados para socorrê-los financeiramente.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, alçado à categoria de potencial candidato à sucessão de Pezão, vem resistindo à inclusão das contrapartidas no acordo formal do governo do Estado do Rio com o Tesouro Nacional. Elas são bastante impopulares e estão provocando reações dos principais grupos corporativos estaduais, fundamentais para quem busca votos nas eleições no estado: servidores públicos não querem aumentar a contribuição previdenciária; não querem privatizar a Cedae, e assim por diante.
Rodrigo Maia diz que seu problema não é com as exigências das contrapartidas, pois está convencido de que elas são necessárias, mas com a insistência da Advocacia-Geral da União (AGU) e do Ministério da Fazenda de que as contrapartidas façam parte do acordo que será colocado para análise do plenário do Congresso.
Maia considera que elas dificultam a aprovação, e teme que não haja clima favorável ao governo. No fundo, o clima desfavorável à aprovação das contrapartidas tem a ver com os votos no Rio de Janeiro e nos outros estados, que também estão quebrados e terão que se submeter às mesmas exigências.
Mas se a base parlamentar acreditar em um dos maiores investidores internacionais, Mark Mobius, considerado o guru dos mercados emergentes, chairman do Templeton Emerging Markets Group, poderá arriscar este ano para colher os frutos no ano eleitoral de 2018. Em visita ao Brasil, Mobius fez uma aposta “ousada”: disse que o PIB do país pode crescer 5% no ano que vem.
Se isso acontecer, o presidente Michel Temer abre nova clareira na sua carreira política. Ou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que ontem anunciou, para espanto quase generalizado, que a recessão brasileira já chegou ao fim.
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