quinta-feira, 16 de março de 2017

Greves marcam protestos contra reforma

Por Cristiane Agostine, Marcos de Moura e Souza, Marina Falcão, Alessandra Saraiva, Robson Sales, Edna Simão e Cristiane Bonfanti | Valor Econômico

SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, RECIFE, RIO E BRASÍLIA - Movimentos organizados comandaram ontem o primeiro grande protesto nacional contra a reforma da Previdência, com paralisações no transporte público, em escolas e agências bancárias e que levou às ruas milhares de manifestantes. Houve atos em 23 capitais, no DF e em grandes cidades de São Paulo e Minas Gerais, com críticas também à reforma trabalhista, à proposta de terceirização e com o pedido de saída do presidente Michel Temer. Na capital paulista, a manifestação contou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas para a eleição presidencial de 2018.

Em ataques diretos a Temer, Lula afirmou que o pemedebista que acabar com as conquistas da classe trabalhadora, não sabe governar e que poderia ser diretor de uma associação comercial, porque só sabe "vender" o patrimônio público. Em discurso de pouco mais de oito minutos, o petista disse que "está ficando claro que o golpe" contra a ex-presidente Dilma Rousseff foi para "acabar com os direitos" dos trabalhadores. "Embora o governo seja fraco, sem nenhuma representatividade, conseguiu montar uma força política no Congresso que quase nenhum presidente eleito conseguiu e essa força está predestinada a tentar impor goela abaixo uma reforma da aposentadoria que vai praticamente proibir que milhões de brasileiros consigam se aposentar", afirmou, no carro de som. Lula incentivou a população a pressionar Temer e disse que os protestos só vão parar quando o país tiver um presidente eleito democraticamente. Segundo os organizadores, 200 mil pessoas foram ao ato. A Polícia Militar não divulgará estimativas.

O ex-presidente não fez nenhuma menção à Lava-Jato, apesar de ser um dos alvos da operação e de ter prestado um dia antes depoimento em Brasília, sob a acusação de tentar obstruir a Justiça.

São Paulo começou o dia com paralisações dos ônibus e de quatro das cinco linhas do metrô. O rodízio municipal foi suspenso e a cidade registrou congestionamento de 201 quilômetros, o maior do ano para o período da manhã. Ao longo do dia a circulação dos ônibus e do metrô foi retomada. Bancários aderiram aos protestos e agências ficaram fechadas na avenida Paulista. Professores e funcionários da rede municipal paralisaram suas atividades.

Unidas em torno das críticas à reforma da Previdência, as maiores centrais sindicais do país optaram por fazer manifestações distintas em São Paulo, por discordarem do caráter político dos protestos. A Força Sindical fez atos nas portas de fábricas pela manhã; a UGT articulou a greve dos motoristas de ônibus e CUT e CTB organizaram a manifestação na avenida Paulista, junto com movimentos sociais e sindicatos. Hoje, as centrais devem se reunir para debater uma proposta alternativa à reforma. Para o presidente da UGT, Ricardo Patah, "é possível um acordo" entre as entidades.

No Rio as concessionárias de Metrô, ônibus e trens funcionaram normalmente, apesar da greve de 24 horas marcada por sindicatos de várias categorias. No início da noite, quando o ato chegava ao fim na Central do Brasil, houve confronto entre manifestantes e policiais, que lançaram bombas de efeito moral, balas de borracha e gás de pimenta.

De acordo com o Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (SinproRio), mais de 15 mil professores aderiram à paralisação. Alguns colégios particulares aderiram ao movimento, de forma total ou parcial, como foi o caso dos colégios Santo Inácio, Anísio Teixeira, São Vicente de Paulo, Teresiano e Franco Brasileiro. Segundo o Sindicato dos Bancários, mais de 60 agências bancárias fecharam no centro do Rio. Além de Temer, foram alvos o governador do Rio Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB).

Em Belo Horizonte, funcionários do metrô, de escolas e de algumas agências bancárias cruzaram os braços em adesão aos protestos. A CUT, uma das organizadores dos atos, estimou que cerca de 100 mil tenham estado nas ruas pela manhã. A Polícia Militar não fez estimativas. Um dos principais reflexos apareceu no metrô da capital mineira. De acordo com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), todas as 19 estações do metrô amanheceram fechadas. Normalmente, o metrô transporta 210 mil pessoas por dia. Uma liminar expedida ontem, segundo a CBTU, determinava que os metroviários mantivessem rodando 80% dos trens, mas isso não foi cumprido, de acordo com a CBTU. As paralisações também atingiram escolas municipais e estaduais.

Em Pernambuco, professores da rede estadual decretaram greve por tempo indeterminado para protestar contra reforma da Previdência. Os docentes, unidos a bancários e metroviários, participaram ontem de uma manifestação no centro, que reuniu cerca de 40 mil pessoas, segundo a CUT. A paralisação das atividades dos professores também ocorre em nome do acordo nacional sobre do piso salarial da categoria, que não está sendo cumprido pelo governo do Estado. O Movimento das Mulheres e o MTST também participaram do protesto contra a reforma. Pela manhã, grupos interditaram a BR-101, nos dois sentidos, ateando fogo a pneus.

Em Brasília, manifestantes protestaram Esplanada dos Ministérios. O Ministério da Fazenda foi ocupado durante a madrugada pelos Movimentos dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e de Luta pela Terra (MLT) e desocupado por volta das 15h de ontem. Segundo a PM-DF, entre 1 mil e 1,5 mil protestaram em frente à Fazenda. O coordenador-geral da Fasubra, Rogério Marzola, afirmou, no entanto, que espalhadas pela Esplanada do Ministério estiveram cerca de 10 mil pessoas de vários movimentos como CUT, CTB, UBES, PSTU, UJS entre outras. Marzola afirmou que a proposta de reforma impede principalmente o trabalhador rural de ter acesso a aposentadoria. A expectativa é de que um novo protesto seja realizado no dia 28.

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