- O Estado de S. Paulo
Na crise ganha quem não está na vitrine. Há 1 ano petistas deixaram de ser vidraça
Não é só Lula da Silva que cresce com a crise e as reformas do governo Temer. Após sofrer a maior derrota eleitoral de sua história em 2016, o PT ensaia recuperar parte da popularidade perdida. Segundo o Datafolha, 15% dos brasileiros apontaram o PT como seu partido de preferência na pesquisa da semana passada. É o melhor resultado para os petistas desde setembro de 2014. Nos últimos dois anos e meio, o petismo oscilara entre 9% e 11%.
Os seis pontos porcentuais de crescimento na preferência pelo PT desde dezembro de 2016 não parecem muito no total do eleitorado, mas viram um caminhão se comparados à simpatia pelos seus rivais. PSDB e PMDB estão estagnados há praticamente um ano: têm 4% de simpatizantes cada um. Mesmo somados, chegam apenas à metade do tamanho do petismo declarado ao Datafolha.
De onde veio o crescimento da simpatia pelo PT? Do eleitorado que até o segundo semestre do ano passado dizia não ter preferência por nenhum partido. Em dezembro de 2016, 3 em cada 4 brasileiros se diziam apartidários. Agora, são 2 em cada 3. A taxa dos sem partido voltou ao nível pré-impeachment.
A recuperação petista ocorreu em todas as regiões. De dezembro a abril, a preferência pelo partido de Lula aumentou de 9% para 14% no Sudeste, de 5% para 10% no Sul, de 14% para 22% no Nordeste, de 7% para 13% no Centro-Oeste e de 6% para 15% no Norte. Cresceu tanto entre os mais pobres (de 11% para 19%) quanto entre os de renda alta (de 5% para 10%); mais entre quem fez o fundamental (de 10% para 18%) do que entre quem fez faculdade (de 7% para 10%).
Como isso pode ter acontecido se o PT não fez nada de notável nesse tempo além de perder muitas das prefeituras que tinha? Em períodos de crise, ganha quem não está na vitrine. Faz um ano que os petistas deixaram de ser vidraça na casa federal, e há quatro meses não respondem pelos problemas de cidades como São Paulo. E a herança negativa que deixaram? Quanto mais o tempo passa e o desemprego aumenta, menos o eleitor se lembra.
À crise econômica se soma a agenda impopular que Michel Temer tenta implantar com o apoio tucano. Os 87% contrários às novas regras para aposentadoria propostas pelo governo sobem a 94% entre petistas. Embora a contrariedade com o aumento da idade mínima para os aposentados alcance maioria também entre partidários de PSDB e PMDB, sua proporção é menor: 79% e 88%. Quanto maior a reação às reformas de Temer, melhor para o PT.
Outro fator que ajuda a explicar o resgate parcial do petismo é que a expansão da Lava Jato e das denúncias de corrupção a políticos de quase todos os partidos nivelou o campo de jogo. Não há mais vantagem moral em se declarar simpatizante do partido A ou B. Todos carregam praticamente o mesmo desgaste.
Isso significa que o PT está voltando a ter a penetração que teve no passado? Não chegou nem perto disso. No seu auge, em abril de 2012, o petismo alcançou 31% dos brasileiros, segundo o Datafolha. Desde então, sua influência só caiu. É o primeiro crescimento significativo da preferência pelo PT em cinco anos.
Além disso, é de se esperar que, como ocorreu no passado, ao aumento do petismo corresponda um crescimento do antipetismo. A diferença é que não se sabe quem vai se beneficiar disso. A transfusão para o PSDB deixou de ser automática.
Há novos jogadores capazes de atrair antipetistas tanto quanto os tucanos foram no passado. Com a vantagem de que transitam melhor no maior grupo do eleitorado. Jair Bolsonaro tem 76% de sua intenção de voto concentrada nos eleitores sem partido. E Joaquim Barbosa, o ex-ministro do STF, ainda mais: 81%.
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