- Folha de S. Paulo
A guerra acabou, mas não há notícia do começo da reconstrução econômica. Apenas esperanças vagas, sujeitas a desilusões feias, de que o crescimento vá um tico além de 0,5% neste ano.
Melhoras adicionais dependem de imponderáveis extremos, como uma reação exagerada, extraordinária e positiva à baixa dos juros, ou de sintomas dúbios, como inflação em queda para 3%, que pode ser também sinal de hipotermia econômica.
Com crescimento de 0,5%, empobreceremos pelo quarto ano. O tamanho da economia, do PIB, aumentaria menos que o da população, ora em torno de 0,8%.
Assim, é muito improvável que o desemprego pare de crescer até o terceiro trimestre; que o povo sinta diferença na vida antes do Natal.
Os números mais importantes do primeiro trimestre estão na mão; o PIB do IBGE sai em 1° de junho. Há previsões disparatadas do que aconteceu no início do ano, prejudicadas ainda por revisões de estatísticas oficiais. Mas o PIB deixou de encolher, trimestre a trimestre, primeiro resultado positivo desde o fim de 2014.
No geral, não houve surpresa feliz. Alguns resultados melhores e inesperados devem apenas ter compensado lerdezas em outras partes da economia.
A queda abrupta da inflação foi surpresa, ao menos para a centena de economistas que manda previsões para o BC (compiladas no boletim Focus). O dinheirinho do FGTS também, assim como a calmaria na finança global. Não adiantou muito.
Os economistas do Bradesco estimam que o PIB tenha crescido 0,7% no 1º trimestre. Os do Itaú, 1,4%. Por que tratar de previsões de bancões?
Além das estatísticas públicas, essas instituições financeiras dispõem de dados que obtêm no seu trabalho de bancos enormes, com rede extensa de serviços e informações pelo Brasil. Em tese, podem calibrar suas estimativas com temperos da realidade cotidiana dos negócios.
Em tese. As diferenças são brutais. Para o ano, o Bradesco prevê alta de 0,3% do PIB. O Itaú, 1%.
No instituto federal de pesquisa econômica, o Ipea, prevê-se avanço de 0,7%. Na mediana dos economistas do Focus, 0,46%. No Banco Central, 0,5%.
Autoridades econômicas do governo dizem que é isso mesmo, que a vaca apenas fica à beira do brejo onde atolou em 2015 e 2016, "retomada bem gradual".
Todo o mundo condiciona tais projeções à aprovação da reforma da Previdência. Caso contrário, o caldo pode entornar vermelho. O resultado pode ser pior que essa quase nulidade de crescimento.
Previsões de PIB com mais de seis meses de antecedência costumam ser bem furadas. Mas por ora não há à vista sinal de impulso extra, de choque positivo que possa acordar de vez esse Frankenstein catatônico, a economia brasileira.
O investimento do governo diminuirá; concessões para empresas privadas mal haverá. Os bancos não parecem dispostos a se mover antes de metade do ano. O endividamento de empresas e famílias cai, mas a um ritmo ainda muito insuficiente para reduzir dívidas a um nível compatível com despesas em alta relevante.
A massa de salários parou de cair, mas não há indício de que suba a ponto de alterar previsões de consumo das famílias. De exportações não deve vir melhoria adicional.
Resta apenas o imponderável.
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