- O Estado de S.Paulo
As grandes incertezas tendem a criar certo consenso. Desta vez, serão raros os empresários e analistas que criticarão o Banco Central por reduzir os juros básicos (Selic) em apenas um ponto porcentual, para 10,25% ao ano, e não em pelo menos 1,25 ponto. Também pareceu prudente optar por reduzir os próximos cortes.
E, no entanto, há muito não se via a inflação mergulhar tão rapidamente como agora nem controle tão firme das expectativas dos marcadores de preços pelo Banco Central.
Na última terça-feira, a FGV mostrou que o IGP-M, o indicador que serve para reajustar aluguéis e contratos financeiros, caiu 0,93% em maio e acumulou em 12 meses um avanço de apenas 1,57%. A perspectiva é de que, nos próximos meses, caia ainda mais.
A inflação de maio medida pelo IPCA, a referência para o sistema de metas, a ser divulgada apenas dia 9, aponta para alguma coisa entre 0,43% e 0,46%, ou para cerca de 3,95% em 12 meses. Mas algumas notícias boas, como nova redução das tarifas de energia elétrica e dos combustíveis mais o comportamento contido do câmbio, permitem esperar para junho uma inflação pouco acima de zero.
Quando já ninguém mais falava em risco de dominância fiscal (situação em que os juros perdem eficácia no controle da inflação), estourou a nova crise que disseminou insegurança.
Em tempos relativamente normais, haveria condições para que se fosse mais fundo no corte dos juros. Mas veio a nova onda de turbulência e, com ela, o aumento das incertezas. Assim, o Copom reduziu a pressão no acelerador.
Acidentes sempre acontecem, mas, em tempos normais, podem ser matematicamente antecipados. Tanto podem que as seguradoras vivem de probabilidades matematicamente calculáveis. No entanto, a crise alavancou os riscos. O mais preocupante é que aumentou a ameaça de deterioração das contas públicas e de implosão da economia ainda convalescente.
Como não se vê perspectiva do que será ou não decidido na política econômica, o chão das pessoas e das empresas para tomadas de decisões ficou perigosamente movediço. É o que paralisa o País, justamente na hora em que ensaiava retomada da atividade e do emprego, como os últimos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua mostrou nesta quarta-feira (veja o Confira).
Ainda assim, a tendência dos juros nominais continua sendo de queda. Mas, como a inflação deverá fechar o ano abaixo dos 4,0% (a meta é 4,5%), juros básicos de 8,50% ao final de 2017 ainda mostrarão juros reais (descontada a inflação) elevados demais.
Logo depois do recrudescimento da crise política em maio, a decisão do Copom ficou tão previsível que muita gente passou a esperar por alguma novidade no texto. O Banco Central apenas reconhece que “o aumento recente de incerteza” pode emperrar as reformas e avisa que deverá reduzir a dose do corte dos juros nas próximas reuniões do Copom. Ou seja, os juros não deverão cair mais do que 0,75 ponto porcentual.
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