Por Murillo Camarotto | Valor Econômico
BRASÍLIA - A migração de dissidentes do PSB para o DEM está bem encaminhada, mas ainda depende de uma "refundação" do partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). O objetivo dos parlamentares interessados na troca não é ingressar exatamente no DEM, mas em uma nova força de centro-direita que seria formada para disputar a Presidência da República em 2018, de preferência com apoio do presidente Michel Temer.
Os dissidentes do PSB enxergam uma oportunidade de ganhar espaço político em um cenário que, segundo eles, está hoje polarizado entre os que pretendem votar no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A leitura é de que o PMDB, que tradicionalmente ocupa o espaço entre os polos, está ferido pela Lava-Jato e sairá menor das eleições do ano que vem.
Uma liderança do PSB que negocia a transição disse ao Valor que o sucesso do movimento vai depender da disposição da direção do DEM em "abrir as comportas" para receber os novos aliados. Isso passaria, por exemplo, por uma decisão de Executiva Nacional do partido de destituir os diretórios estaduais e municipais para uma nova divisão do poder na sigla.
Esse seria, hoje, o principal entrave para os dissidentes do PSB "fecharem negócio" com Maia. Outro desejo é de que o nome do DEM seja alterado, a fim de reforçar o ar de novidade do grupo. Além do presidente da Câmara, são favoráveis à expansão do partido o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o ministro da Educação, Mendonça Filho. O principal opositor da ideia é o presidente nacional do DEM, o senador José Agripino Maia.
"Não vamos mudar para o DEM atual, sem mudar nada", garantiu um dissidente. Ele acredita que esse novo grupo de centro-direita deveria seguir na base de sustentação a Temer e aprovar a reforma da Previdência, apostando em um cenário econômico mais favorável em meados do ano que vem. "Não podemos pensar no futuro baseados exclusivamente no cenário de hoje", disse o pessebista, referindo-se ao elevado índice de rejeição ao presidente.
Se tudo sair conforme o planejado, o "novo DEM" exigiria em troca o apoio de Temer para a sucessão presidencial. O nome mais forte hoje seria o de Rodrigo Maia, mas a discussão ainda não chegou a esse ponto. O pessebista lembra que antes da delação da JBS, Temer chegou a apresentar 9% em pesquisas presidenciais, o que mostra que ele pode ser um cabo eleitoral interessante se a economia estiver melhor em 2018.
Entre os nomes do PSB dispostos a migrar, os mais relevantes são os de dois pernambucanos: o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, e seu pai, o senador Fernando Bezerra. A líder do partido na Câmara, Tereza Cristina (MS), e o deputado Danilo Forte (CE) também são figuras importantes que estão de saída.
Além dos parlamentares do PSB, acredita-se que lideranças de outros partidos poderiam se juntar ao grupo. Um foco de ataque é o PSDB de Minas Gerais, que ficou "órfão" após as denúncias contra o senador Aécio Neves. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), também já namora o projeto.
A expectativa é de que os caciques do DEM convoquem uma reunião da Executiva para debater a "refundação". Se isso não acontecer, o grupo dissidente do PSB vai olhar outras possibilidades. Apesar do assédio feito pessoalmente por Temer, é remota a chance de o grupo migrar para o PMDB. O entendimento é de que o desgaste do partido só tende a se acentuar.
Ficar no PSB também é pouco provável. Preocupados com um possível esvaziamento da sigla, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, devem viajar à Brasília na próxima semana para conversar com os dissidentes.
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