Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Às vésperas de completar 30 anos, o PSDB está tão dividido que pela primeira vez pode ter de assistir a uma disputa de chapas na eleição de seu novo presidente em dezembro. A tradição dos tucanos é o acerto de cúpula. O governador de Goiás, Marconi Perillo, confirmou ao Valor que será candidato. O senador Tasso Jereissati (CE), nome histórico do PSDB, anuncia em breve se será o candidato dos "cabeças pretas", grupo rebelde integrado por deputados que pregam o rompimento imediato do governo e a entrega dos cargos nos ministérios. O pano de fundo da disputa é a sucessão presidencial.
PSDB dá largada para novo conflito interno
Às vésperas de completar 30 anos, o PSDB chega a eleição de sua nova direção partidária, em dezembro, tão dividido que pela primeira vez em sua curta história pode bater chapa para eleger o novo presidente do partido. A tradição dos tucanos é o acerto de cúpula. O governador de Goiás, Marconi Perillo, confirmou ao Valor que será candidato. O senador Tasso Jereissati (CE), nome histórico do PSDB, anuncia talvez ainda nesta semana se será o candidato dos "cabeças pretas", grupo rebelde integrado por deputados do partido que pregam o rompimento imediato do governo e a entrega dos cargos nos ministérios. O pano de fundo da disputa é a sucessão presidencial.
A candidatura de Tasso tem a simpatia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas Perillo veste o figurino desenhado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, virtual candidato tucano ao Palácio do Planalto - alguém capaz de coordenar de maneira discreta e flexível o arco de alianças que deve apoiar a sua candidatura. Perillo entrou na disputa estimulado por Alckmin, mas o governador paulista preferiria não ter que mediar uma disputa.
Segundo apurou o Valor, o governador de São Paulo quer disputar a Presidência, nas eleições de 2018, liderando de um amplo arco de alianças. Alckmin não quer a marca singular do PSDB na sua campanha. Avalia ser uma marca negativa e que o "PSDB sozinho não tem apelo para disputar a eleição", como tem dito a aliados. "O candidato tem que ser maior que o PSDB, ir além do PSDB", defende o governador com as pessoas que já trabalham para viabilizar sua candidatura.
Nesse contexto, tem lugar até para o PMDB de Temer - Alckmin não quer jogar pela janela o partido com maior capilaridade do país. E Tasso já deu largada incompatibilizando-se com o PMDB de Temer: ele apoiou o desafio dos "cabeças pretas" do PSDB da Câmara que votaram a favor do recebimento da segunda denúncia contra o presidente, pauta que rachou ao meio a bancada tucana: 23 a 21 contra Temer. "Era pra ser uma solução de equilíbrio, mas em vez de procurar unificar o partido, ele estimulou a divisão", diz um "cabeça branca" que apoiou a indicação de Tasso para substituir interinamente Aécio Neves (MG) na presidência e hoje é contrário a sua permanência no posto.
A relação Aécio-Tasso é acre. Para ficar apenas nos episódios mais recentes, Tasso votou favoravelmente à reintegração plena de Aécio Neves no Senado, do qual o senador mineiro estava afastado por determinação de uma turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no período noturno. A intenção de Aécio era em seguida se afastar do partido. Mas logo cedo, no dia seguinte, Tasso, o interino, exigiu a renúncia do titular. Aécio resolveu ficar. "Fora do dia a dia do partido", informam auxiliares de Tasso.
Por meio de sua assessoria, Tasso informou que "está pensando [na candidatura], vai conversar e decidir", talvez ainda nesta semana. Na opinião do senador, queira-se ou não, os deputados do PSDB decidiram pelo afastamento do governo Temer - esse seria o recado do resultado final da votação da última quarta-feira. Tasso está interino desde maio, quando Aécio foi abalroado pela delação da J&F e pediu licença do cargo. O cearense hoje cogita até largar a presidência interina para sair candidato à efetivação, em dezembro. Nunca se viu nada igual no PSDB.
Perillo diz que é candidato a convite de "vários setores" do partido. "Estou deixando o governo e quero ajudar na elaboração de novas teses que o partido está discutindo". Segundo Perillo, "ao presidente do PSDB não cabe o papel de protagonista", para melhor coordenar o "arco de alianças" para 2018. Perillo acha que a convenção de dezembro deve ser dividida em duas etapas: a eleição do diretório nacional e a avaliação em relação ao governo. Particularmente, defende a entrega dos cargos no governo, mas que o PSDB " permaneça nas reformas, apoiando teses que sempre foram defendidas por nós".
Na reunião marcada para 9 de dezembro, o PSDB deve definir também o modelo das prévias previstas para fevereiro a fim de escolher o candidato do partido. Há pelo menos três modelos, o mais cotado foi apresentado pelo deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), de prévia qualificada. Participariam todos os membros dos diretórios municipais, estaduais e nacional, vereadores, deputados estadual e federal, senadores, governadores - um colégio estimado entre 20 mil e 25 mil votantes. Isso se a prévia for realizada, o que só ocorrerá se o PSDB tiver mais de um pré-candidato. Por enquanto, estão postos os nomes de Alckmin e do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. O prefeito João Doria é uma possibilidade hoje mais distante.
A convenção é o pontapé inicial do PSDB na sucessão, mas se Alckmin desde já confirmar seu favoritismo, a prévia será cancelada. Num ambiente conflagrado como o do PSDB, é cedo ainda para qualquer aposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário