segunda-feira, 30 de outubro de 2017

BC entra na fase do ajuste fino da política monetária- Editorial: Valor Econômico

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou na semana passada os juros básicos da economia em 0,75 ponto percentual, a 7,5% ao ano, e deixou praticamente certo mais uma baixa em dezembro, para 7% ao ano, que será o menor percentual registrado em quase duas décadas do regime de metas de inflação.

A primeira reação no mercado financeiro ao comunicado divulgado pelo Copom, que detalhou a decisão, foi uma alta nos juros futuros. O BC eliminou, nesse documento, a sinalização de que o atual ciclo de distensão monetária vai terminar de forma gradual, o que muitos interpretaram como um sinal de que a autoridade monetária já se prepara por dar seu trabalho por encerrado.

Se isso é realmente o que o BC comunicou, ainda está em aberto. Os economistas que leem com lupa a comunicação de política monetária se dividem em dois grandes grupos: os que acham que os juros param em 7% ao ano e aqueles que acham que a taxa pode cair abaixo desse percentual.

Em setembro, o Banco Central já havia indicado que os juros poderiam cair a 7% ao ano até o fim de 2017. Mas deixou em aberto a possibilidade de ir além. Dependeria, fundamentalmente, da evolução do cenário econômico e político, tanto doméstico quanto externo, e de como esse quadro iria afetar as projeções de inflação do BC.

O alvo principal da política monetária é cumprir a meta de inflação de 2018, fixada em 4,5%. O BC projeta que, se os juros caírem a 7% e continuarem nesse percentual ao longo do ano que vem, a inflação de 2018 ficará em 4,3%, praticamente na meta. Quando o BC corta mais os juros, a inflação costuma subir - por isso, para que haja espaço para uma Selic menor que 7% ao ano, é necessário que ocorra algo positivo que baixe ainda mais as projeções de inflação.

No comunicado de sua reunião de setembro, o Copom informou que havia chances de a inflação muito baixa de alimentos e de produtos industriais se espalhar para outros preços da economia. Também mencionou, no documento, a possibilidade de a inércia inflacionária ser mais fraca em 2018, depois de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cair a níveis muito baixos neste ano.

Se esses dois fatores positivos se concretizassem, portanto, a inflação projetada cairia abaixo da meta - e, em tese, o Banco Central teria espaço para cortar mais os juros. O fato, porém, é que até a semana passada esse cenário positivo não havia se confirmado. O Copom refez suas projeções de inflação, e elas seguiam apontando uma variação do IPCA de 4,3% ao ano. No comunicado, o BC diz que a inflação evoluiu de acordo com o cenário básico, ou seja, que não houve nenhuma surpresa positiva.

A conclusão é que, com as informações disponíveis na reunião do Copom da semana passada, não havia muito espaço para os juros caírem abaixo de 7% ao ano. O fato alentador é que o Banco Central voltou a mencionar, no seu comunicado, que ainda via chances de os fatores positivos melhorarem, nos próximos meses, as projeções para o IPCA e abrirem espaço para juros menores.

É bom notar que toda essa discussão diz respeito ao ajuste fino dos juros. Ela é muito importante para o mercado de juros, em que variações de 0,25 ponto percentual na taxa Selic podem determinar a fortuna de muitos. Para o lado real da economia, o relevante é que o BC acha adequada uma política monetária expansionista e se mantém comprometido em cumprir o centro da meta de inflação em 2018, nem mais nem menos, e eliminar a ociosidade da economia.

O Banco Central prevê que, nos próximos trimestres, a atividade vai seguir trajetória de recuperação gradual, encerrando 2018 com uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,2%. De forma também gradual, o aquecimento da economia vai levar a inflação, que o BC prevê que vá ficar em 3,3% em 2017, para o centro da meta em 2018. O Copom, por outro lado, voltou a afirmar no seu comunicado que a sua sinalização vai se adequar a eventuais mudanças no cenário. Se a economia e a inflação não reagirem, os juros devem ser ainda menores.

Mas o comitê também alerta para o risco de um cenário negativo, combinando a não aprovação da reforma da Previdência e a deterioração do cenário internacional, que exigirá juros maiores. Para mitigar esse risco, é necessário que o governo e Congresso assumam as suas responsabilidades.

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