- Valor Econômico
Itaú e BNP Paribas divulgam cartilhas e listam candidatos
Enquanto o presidente Michel Temer e líderes dos partidos aliados engatam uma reforma ministerial capaz de atender a múltiplos interesses e assim garantir os 308 votos necessários para a aprovação de alguma reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, bancos, assets e consultorias já estão mobilizadas para as eleições de 2018. Nas próximas semanas, deve ser acelerada a distribuição, iniciada há poucos dias, de cartilhas, guias ou manuais sobre as eleições brasileiras do ano que vem.
Gestores de recursos tratam de municiar investidores com informações sobre potenciais candidatos: trajetória profissional, nível educacional e filiação partidária. E, sobre os candidatos que já são políticos, os manuais da eleição trazem uma retrospectiva de certames passados e perfil de eleitores.
A iniciativa das instituições pode parecer apressada a um ano da eleição, mas ela não será só mais uma. A próxima eleição será a primeira a ocorrer após uma troca de governo e uma inédita recessão econômica.
Em 2018, as urnas deverão produzir, no mínimo, um governo substituto a "2 em 1". O próximo titular no Palácio do Planalto será o sucessor de Michel Temer e de Dilma Rousseff, ex-presidente afastada do cargo, em definitivo e por crime de responsabilidade, no fim de agosto do ano passado.
"O tema 'Eleições 2018' chegou antes do que se imaginava. E neste cenário eleitoral antecipado, as reformas econômicas serão protagonistas e não coadjuvantes", avalia Sérgio Goldenstein, sócio e gestor da Flag Asset Management e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central (Demab).
Em entrevista à coluna, Goldenstein afirma que, se passar algo da Previdência, os mercados domésticos devem reagir muito positivamente, com alta da bolsa, valorização do real e fechamento da curva de juros. A confiança do setor real da economia seria ampliada e contribuiria para acelerar o crescimento. "Uma economia mais forte, com geração de empregos, inflação contida e juros baixos, pode tornar-se um trunfo nas eleições presidenciais. Por outro lado, um cenário de maior instabilidade econômica, improvável mas que não deve ser descartado, abriria espaço para candidatos outsiders, o que não interessa aos partidos da base aliada, inclusive o PSDB", diz Goldenstein.
Alexandre Póvoa, presidente da Canepa Asset Brasil, avalia que as Eleições 2018 gradativamente poderão começar a interferir na formação de preços dos ativos. "A evolução da economia não será suficiente para reduzir significativamente o risco eleitoral, que deverá permanecer elevado diante deste vácuo de um candidato reformista com credenciais de popularidade para vencer uma contenda presidencial. As crises partidárias dentro do PSDB e Rede, assim como a magnitude do voto potencial em Jair Bolsonaro, acendem a luz amarela", afirma Póvoa que tem convicção "ainda mediana" que prevalecerá um candidato capaz de dar continuidade à agenda reformista. O economista entende, porém, que esse cenário só deve se cumprir com ao menos uma de duas condições: futura união dos partidos mais "centristas" visando a manutenção do status quo ou ascensão de um candidato popular fora do meio político.
O Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco, chefiado por Mário Mesquita, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), distribuiu o "2018 Elections Guide" na semana passada. O BNP Paribas também fez circular o "Brazil: Election Tracker", assinado por Marcelo Carvalho, economista-chefe para Mercados Emergentes na América Latina.
Os dois relatórios apresentam dez potenciais candidatos a presidente com a síntese das biografias. De dez possíveis concorrentes citados pelo Itaú e pelo BNP, oito são comuns. Adicionalmente, o Itaú escala João Dionísio (Partido Novo) e Joaquim Barbosa (sem partido); e o BNP acrescenta como presidenciáveis Jaques Wagner (PT) e Henrique Meirelles (PSD).
Os dois elencos são encabeçados por Luiz Inácio Lula da Silva. A partir da segunda posição, o Itaú traz Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, João Doria, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Marina Silva, João Dionísio, Luciano Huck e Joaquim Barbosa.
O BNP Paribas apresenta, também por ordem de publicação, Luiz Inácio Lula da Silva, João Doria, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Jair Bolsonaro, Luciano Huck, Jaques Wagner, Ciro Gomes, Fernando Haddad e Henrique Meirelles.
As fontes de informação dos dois documentos são Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Câmara, Senado, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os institutos de pesquisa Datafolha e Ibope. Itaú e BNP apresentam as principais decisões aprovadas com a Reforma Política e regras já definidas para 2018 e 2020.
Itaú e BNP informam, entre outros detalhes, que o financiamento de campanha por empresas foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2015. Os candidatos em 2018 poderão receber contribuições de pessoas físicas e financiamento público com recursos programados no orçamento, com 30%, ou R$ 1,4 bilhão, do que seria destinado às emendas parlamentares.
As duas casas apresentam o calendário eleitoral que tem início em 2 de abril de 2018. A data limite para desincompatibilização de cargos no Executivo é 7 de abril. De 20 de julho a 5 de agosto, devem ser realizadas as convenções partidárias para definição de candidatos e alianças. O prazo para registro de candidatos expira em 15 de agosto. A campanha começa oficialmente no dia 15. Dez dias depois, a campanha chega ao rádio e à TV. Será encerrada em 29 de setembro. O primeiro turno da eleição será em 7 de outubro; de 12 a 16 de outubro, a campanha retorna ao rádio e à TV. O segundo turno será no dia 28.
O BNP Paribas lembra que registros de pesquisa de opinião devem ser encaminhados, obrigatoriamente, à Justiça Eleitoral em 1º de janeiro de 2018. Entre março e abril podem ocorrer mudanças de partido. O banco francês apresenta minuciosa descrição da distribuição de tempo no rádio e na TV aos candidatos à Presidência da República e ao Senado Federal.
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