- Valor Econômico
SÃO PAULO - Presidente do Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos do PSDB, José Aníbal diz que falta autoestima aos tucanos que criticam a participação do partido no governo Michel Temer. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor.
Valor: Como o senhor avalia a atitude de Aécio ao destituir Tasso?
José Aníbal: Não vejo como destituição. Foi a substituição de um vice-presidente indicado pelo Aécio por outro vice que não está no processo sucessório. Aécio viu que havia o desejo de ter uma condição mais isonômica, de que a presidência fosse exercida por alguém que não é parte da disputa.
Valor: Mas em 2016 Aécio prorrogou seu mandato por dois anos sem deixar a presidência do partido. São dois pesos e duas medidas?
Aníbal: De jeito nenhum. Aécio era presidente eleito do partido e cumpriu o que manda o regimento. Chamou a Executiva e usou os procedimentos previstos. São situações diferentes. Ele até antecipou o fim de seu mandato, que estava previsto para terminar em maio de 2018, e convocou as eleições para este ano. Tem um mal-estar no partido, mas vamos caminhar para o apaziguamento.
Valor: A crise do PSDB se intensifica a menos de um ano das eleições. Essa articulação do Aécio não prejudica a candidatura de Alckmin?
Aníbal: Não acho que agravou a crise. O partido já está mais pacificado. Essa insistência feita pelos 'cabeças pretas' de reduzir a disputa dentro do PSDB a ficar ou sair do governo Temer é algo completamente estapafúrdio, equivocado. O grande desafio é enfrentar os nossos problemas, construir a nossa unidade e fazer o Brasil avançar. O PSDB tem um compromisso firme com as reformas e deve assumir protagonismo nisso. Quanto melhor estiver o país, com a recuperação da economia, menos chances terá uma candidatura salvacionista. A crise interna é um problema nosso e a sociedade não está preocupada com isso.
Valor: Temer deve fazer a reforma ministerial neste mês e poderá tirar o PSDB. O partido não pode ficar isolado se sair do governo por decisão do presidente?
Aníbal: O partido está construindo a sua saída. Essa questão não pode ser uma questão presente na nossa convenção. É resultado de um compromisso: apoiar o governo em direção das reformas. O governo vinha operando as reformas, aprovou a trabalhista e já ia entrar na previdenciária. Vamos sair do governo, mas é uma relação civilizada, foi um compromisso em função de um programa de quinze pontos que apresentamos. Questões internas têm de ser trabalhadas não para a fragmentação do partido, mas para o fortalecimento. A convenção tem que discutir a revitalização das nossas diretrizes, a construção das premissas de um governo a ser adotado pelo candidato à Presidência.
Valor: Tucanos históricos têm dito que o partido voltou a ser o velho PMDB que o PSDB criticava. O lema de "estar longe das benesses do poder, mas perto do pulsar das ruas" vai ser revisto?
Aníbal: Esses tucanos é que estão longe das ruas. Eles não estão entendendo nada, lamentavelmente. O povo não está nem aí para o fato de estarmos ou não em governos. Falam como se a gente tivesse no governo para tirar proveito pessoal. Não é o caso de nenhum dos nossos companheiros. É totalmente diferente. Eles estão totalmente equivocados. Temos esse compromisso de não nos lambuzarmos, de não nos envolvermos com aquilo [governo]. Se acontecer, tem que punir. O que esses tucanos fazem é um diagnóstico fácil, ligeiro, que não ajuda o PSDB a crescer. Pelo contrário. É um rebaixamento. É uma baixa autoestima desses companheiros. Lamento por eles. Tem que prevalecer no PSDB a posição de encarar os desafios e não viver de 'cutucar' os outros. Eles são incapazes de formular uma posição política, que nos associe com os anseios da população. Querem ficar com luta interna. Luta interna, dissociada das questões da população é briga. É isso o que estão querendo fazer. Não vamos deixar.
Valor: O PSDB pode se enfraquecer como alternativa anti-PT e abrir espaço para um nome mais conservador como do Bolsonaro?
Aníbal: Não. Bolsonaro não tem condições de ser presidente do Brasil. É uma aventura, de todos os pontos de vista. Temos que evitar os aventureiros. Lula é uma aventura que a gente já conhece. Bolsonaro é uma aventura que a gente tem memória. É a memória do 'eu prendo e arrebento', 'eu acabo com a inflação com um tiro'. Lembra o Collor. E deu no que deu. O Brasil tem que construir uma posição que aproxime os brasileiros, promova a convergência no propósito de enfrentar esse grande desafio que vivemos hoje. O Brasil tem que voltar a crescer, duplicar a renda da população no médio prazo, crescer a taxa de dois dígitos. É possível. Precisa de racionalidade, temperança. Precisamos de um presidente que seja agregador. O PSDB tem candidato para isso, que é Alckmin. E quem abre caminho para uma candidatura como a do Bolsonaro é o PT e não o PSDB. Lula e Bolsonaro são as duas faces da mesma moeda.
Valor: Quem é seu candidato à presidência do PSDB? Alckmin é uma solução pacificadora?
Aníbal: Alckmin sempre será solução pacificadora. É o estilo dele. Agregador, pacificador. Essa questão pode se colocar. No momento temos dois candidatos. Não vou declarar preferência porque presido o instituto do PSDB. A convenção deve revitalizar os nossos pressupostos e premissas partidários e fornecer elementos para a construção de um governo.
Valor: O resultado da convenção pode levar a debandada do PSDB?
Aníbal: Não há menor hipótese.
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