Adicionar legenda |
- O Estado de S. Paulo
Eles estão nas pontas opostas da corrida presidencial, com eleitorados distintos um do outro, mas, mesmo assim, têm algo em comum. O populismo, gritarão os sem-candidato entre eles. Porém, as convergências de quem foi preso pela ditadura com quem vive para ressuscitá-la são mais do que adjetivas. Por ora, Lula e Bolsonaro são os dois únicos candidatos a presidente com capacidade de mobilizar militantes e campanhas na rua e na rede.
Os pontos em comum são, ao mesmo tempo, causa e consequência da liderança que ambos sustentam nas pesquisas de intenção de voto. Conseguem mobilizar eleitores porque estão na frente, e estão na frente porque conseguem mobilizar eleitores. A questão é se largar na dianteira é uma vantagem tão fugaz quanto foram as “pole positions” de Lula em 1994 e de Serra em 2010. É no que apostam (e torcem) 9 entre 10 consultores do mercado financeiro.
Se o restrospecto conta uma história desfavorável aos apressados, pela primeira vez se vêem indícios de que a campanha digital pode ter impacto positivo sobre a campanha real. Em pleitos anteriores, mídias sociais (WhatsApp à frente) serviram para detonar os rivais, mas foram de pouco valia para ganhar votos. A julgar por 2017, isso está mudando. A força da campanha via redes digitais conseguirá se equiparar à da TV? Se sim, a cronologia das eleições passadas talvez não se aplique a 2018.
Pela primeira vez, o engajamento virtual antecipou o resultado de pesquisas de opinião com o eleitorado real. Doria despencou antes nos comentários, likes e compartilhamentos de sua página no Facebook do que caiu sua avaliação como prefeito no Datafolha. A caravana de Lula pelo Nordeste resultou em grande aumento das interações com sua página, o que coincidiu com um “bump” nas pesquisas de intenção de voto. Bolsonaro sustenta a mesma consistência e destaque nas pesquisas e nas redes.
Já os outros presidenciáveis patinam, tanto no real quanto no virtual. Como essa relação entre as duas campanhas se dará daqui para frente é a grande questão ainda sem resposta desta eleição.
Tradicionalmente, as campanhas eleitorais são divididas em estágios: escolha do candidato, fixação de sua imagem, construção de uma narrativa eleitoral, definição de um eleitor-alvo, engajamento da militância, alianças com outros partidos e, por fim, o esforço de ampliação do eleitorado via moderação do discurso e desconstrução dos adversários. Ao final, vence quem consegue convencer mais gente de que é o mal menor.
Enquanto a maioria de seus concorrentes ainda nem sabe se conseguirá lançar sua candidatura, Lula e Bolsonaro são candidatos declarados, têm imagem mais do que fixada, estão avançados na construção de suas narrativas e têm eleitorados cativos. Ambos têm se esforçado para engajar seus militantes em torno de suas candidaturas, tanto ao vivo quanto virtualmente.
Ao fazer isso, um tem ajudado o outro. Construir uma narrativa de campanha implica definir seu inimigo. Bolsonaro escolheu Lula. Ele e seus aliados virtuais, como o Movimento Contra Corrupção, intensificaram os ataques ao petista. Está funcionando: as buscas por Lula no Google agora mostram uma associação com Bolsonaro mais frequente do que meses atrás. Ao mesmo tempo, caem as pesquisas sobre “o que é Bolsonaro?” (sic).
O maior risco de partir cedo demais para a corrida é queimar a largada – Doria que o diga. Nisso, porém, os dois líderes se distinguem. Lula está tão exposto desde sempre que a campanha antecipada serve para testar vacinas e, se der certo, criar anticorpos. Bolsonaro ainda precisa provar que tem a casca dura. Seu primeiro teste será manter-se em segundo até 7 de abril.
Nenhum comentário:
Postar um comentário