A convergência das conflitantes alas do PSDB em torno do governador paulista para a presidência do partido teve dois objetivos básicos: reunificá-lo e dar a Geraldo Alckmin condições de construir e encabeçar uma aliança das forças centristas e reformistas na próxima disputa presidencial. Aliança dependente, antes de tudo, de apoio do PMDB a um tucano (o próprio Alckmin). A repercussão do acordo partidário foi ampliada pela simultânea desistência de possível candidatura por parte de Luciano Huck, outsider favorecido por grande empatia social (como a que anteriormente beneficiava o “noviço” político João Dória). Com Alckmin sendo recebido pelo conjunto do mercado positivamente (embora sem grande entusiasmo) como resposta à “ameaça” representada nas pesquisas pela polarização Lula/Bolsonaro.
Os obstáculos que terá pela frente para recompor a unidade do partido e se afirmar como principal representante dessas forças - destacadamente o radicalismo oposicionista dos “cabeças pretas”, que agora se opõem ao fechamento de questão para a bancada na Câmara em favor da nova proposta de reforma da Previdência – tais obstáculos serão bem reduzidos por um crescimento significativo das intenções de voto que ele obtenha em próximas pesquisas. Ou persistirão se elas seguirem situando-o com preferência social abaixo de dois dígitos. Isto estimulando a busca de alternativas dessa liderança por parte dos dirigentes do DEM e do PMDB, com o ensaio do nome do ministro Henrique Meirelles, de uma retomada do de João Dória (até com troca de legenda) e de reeleição do presidente Michel Temer. Busca amparada na “justificativa” da ambiguidade do PSDB, que retardará o imperativo do processo de convergência das forças desse polo.
Quanto à relevância de aprovação da proposta “enxuta” de mudança do sistema previdenciário, cabe ressaltar entrevista do economista Edmar Bacha (um dos formuladores e executores do Plano Real), publicada ontem no Estado de S. Paulo com o título “É absurdo o PSDB não fechar questão pela Previdência”. Trechos da entrevista: “Fiquei muito preocupado, junto com meus amigos, quando vi, na semana passada, que o PSDB não estava querendo fechar questão com a reforma proposta. É uma coisa fundamental para o País, está na origem fiscal do Plano Real. É uma reforma que nós já tentamos, e perdemos por apenas um voto.
A situação é terrível. O Brasil gasta por ano 12% do PIB com Previdência, o que é inacreditável para a estrutura etária da população.” E quanto à disputa dos votos de deputados necessários para a referida aprovação, a resistência dos “cabeças pretas” (à frente o líder da bancada, Ricardo Tripoli), é tratada assim na coluna Painel da Folha de S. Paulo: “Onde o calo aperta. Uma primeira análise sobre o apoio à reforma da Previdência evidencia que o clima na Câmara a favor do projeto melhorou, embora ainda faltem cerca de 50 votos para viabilizar sua aprovação. O desempenho de dois partidos preocupa o Planalto e pode comprometer a proposta: PSDB e PSD. O primeiro, que tinha a mudança nas regras de aposentadoria como bandeira histórica, reconhece que hoje entregaria, no máximo, entre 25 e 30 votos.” (da bancada de 47).
Voltando à construção do cenário da maior batalha político-eleitoral de 2018, a desistência da possível candidatura de Luciano Huck reforça uma característica básica que ela terá: a prevalência dos grandes partidos sobre os projetos alternativos de diversos movimentos articulados por setores do empresariado e de profissionais liberais. Prevalência assegurada pelas regras definidas pelo Congresso, restritivas da criação e da atuação deles. E reforçada pela complexidade do pleito – para presidente, Congresso Nacional, governadores, Assembleias Legislativas – que exige campanhas conjuntas, diferentemente da exclusiva para presidente ganha por Fernando Collor em 1989.
Nesse contexto, a forte e correta cobrança de renovação política e ética por parte de vários desses movimentos terá de voltar-se centralmente para a eleição de parlamentares, sobretudo através de legendas que acolham bem suas demandas. Respaldadas pela forte contraposição social às enormes e graves distorções éticas do sistema político-partidário. Demandas que, se bem sucedidas eleitoralmente, ganharão espaço político-institucional de afirmação bem maior nas novas legislaturas, federal e dos estados. As quais, também sob o impacto dos dividendos conclusivos da Lava-Jato e demais operações anticorrupção, terão de colocar na ordem do dia uma verdadeira reforma política.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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