- Valor Econômico
Longe de uma definição, PSB inventa cenários
A discrição do vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), na convenção do PSDB, cuja presença foi notada apenas depois da nominata de agradecimentos do governador Geraldo Alckmin, é um dos sinais mais eloquentes do sinuoso labirinto em que se encontra o partido de Miguel Arraes e Eduardo Campos, neste momento. Historicamente dividido, com interesses que polarizam seus grupos radicalmente no cenário político, o partido experimenta agora, na prática, os efeitos disso sobre o principal posto de poder e comando no maior colégio eleitoral do país.
Não é essa a situação nova: todos os partidos estão divididos, todos temem debandadas no espaço para migração partidária que será aberto em março, não há agremiação que não sofra abalos com a descombinação das alianças estaduais com a presidencial. Porém, o caso do PSB parece exemplar de um stress que atingiu seu nível máximo de complexidade.
Existem os que querem continuar com o PSDB em alianças que já vigoram nos governos de alguns Estados e, portanto, com Geraldo Alckmin na campanha presidencial. Há os que querem correr para o abraço com o PT, e embarcar com Lula, finalmente, o que não puderam fazer, por constrangimento, quando o acidente de avião interrompeu a campanha do candidato próprio do partido à Presidência. E os que, grupo minoritário, querem ter candidatura própria com Joaquim Barbosa na cabeça de chapa. Muitos, que recusam Barbosa, fortemente, anunciam candidatura concorrente em prévia do ex-ministro de Lula e Dilma, Aldo Rebelo. Um grupo quer o lançamento do próprio Aldo sem prévias, e outro pretende fazer de Beto Albuquerque, ex-candidato a vice, o candidato a presidente. São mais numerosos os grupos que defendem apoio a Lula e a Alckmin. Minoritário, mas com o peso do presidente, Carlos Siqueira, o que defende a candidatura de Joaquim Barbosa. Ah, e tem ainda o governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, que acenou com apoio a Ciro Gomes se o PDT tirar do seu caminho para a reeleição o presidente da Câmara Distrital, Joe Valle (PDT).
Nenhum problema adicional para o PSB jogar seus filiados e líderes em projetos tão opostos, pois as pressões e os interesses internos são igualmente divergentes e não serão conciliáveis. O partido se acha escolado nessa diversidade.
O PSB da Bahia (Lídice da Mata), que integra o governo do PT de Rui Costa, quer ir com Lula; o PSB de Pernambuco rompeu com o PSDB na última eleição municipal e, hoje, o ex-ministro Bruno Araújo e o governador Paulo Câmara e o prefeito Geraldo Júlio são antípodas. Além disso, com o afastamento do ex-ministro de Dilma, Armando Monteiro, do PT, o que ocorreu quando começou a apoiar as reformas constitucionais, o PSB e o PT sentiram-se mais livres para se aproximarem.
De um modo geral, aliás, o PSB do Nordeste sempre sofreu a pressão do prestígio de Lula e agora tem um caminho aberto para entregar os pontos.
O grupo lulista do PSB, muitas vezes, acena com a possibilidade de o PT fazer um movimento para apoiar o PSB em Pernambuco, em Brasília e em São Paulo, locais onde o partido tem o governo estadual. Se isso viesse a ocorrer, considera-se que a aproximação PSB-PT se tornaria inevitável. A ideia, porém, não prospera, pela desconfiança de que o PT consiga apresentar consistência numa iniciativa como essa.
No caso do PSDB, dá-se o mesmo princípio mas por razão diversa. Se houvesse um aceno do PSDB de São Paulo em direção a Márcio França em troca do apoio ao projeto presidencial de Alckmin, seria difícil ignorar. Porém, há convicção que o PSDB de São Paulo jamais dará esse passo. O partido terá candidato e sempre considerou o governo de SP mais importante do que a Presidência da República.
Quem manda é a base e considera-se impossível que ela aprove o apoio a França. Aqui com um problema de mais difícil solução ainda: Márcio França assumirá o governo com a saída de Alckmin, e terá a concorrência de um candidato do PSDB. Os tucanos integrarão seu governo? Se não o estiverem apoiando, certamente não. Alckmin terá dois palanques em São Paulo, sem problema, mas França e PSDB não devem ter o mesmo governo.
As duas forças preponderantes dentro do PSB não foram suficientes para evitar que o seu presidente, Carlos Siqueira, inventasse uma terceira, a candidatura Joaquim Barbosa, ala por enquanto minoritária. Quem não quer Joaquim, indica que Aldo Rebelo disputará a prévia com ele, ou que será a terceira via do partido.
Movimentos oscilantes. Segue o PSB caminhando sem data para definir-se. A complexidade parece insuperável para quem está fora, mas internamente não se perde tempo com isso. Qualquer solução, é o que se diz no partido, deixará o PSB bem.
Os exemplos da flutuação confortável pelos cenários políticos de diferentes partidos comprovariam a hipótese: o PSB integra o governo do PCdoB, no Maranhão, do PT na Bahia, do PSDB em São Paulo e no Paraná, do PMDB no Rio Grande do Sul. Definido como o partido que não oferece adesão ou rejeição absolutas, qualquer solução o satisfará. Todas as possibilidades ainda estão abertas, e a solução não prospera.
São Nunca
Ano que vem e dia de são nunca, para efeito de votação da reforma da Previdência, são a mesma coisa. Dos líderes no Congresso ao ministro da Fazenda, do presidente da Câmara ao presidente da República, todos os que até agora lutavam com vigor para conseguir votos favoráveis à reforma da Previdência, este ano, passaram a considerar a possibilidade de o projeto ficar para o ano que vem. Se as razões para não votar em 2017 são eleitorais, pior será ano que vem; se são a resistência ao corte de privilégios do funcionalismo público, a corporação estará mais forte ano que vem, depois do sucesso obtido neste com a derrubada da reforma. Se o governo disser que o Congresso não quis votar e a proposta fica para 2018, o realismo manda considerar essa questão só a partir de 2019, se o futuro presidente da República conseguir vencer a disputa anunciando, entre seus planos, a reforma da Previdência.
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