Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou que a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um "desserviço a ele próprio e ao país" e que o julgamento do processo contra o petista pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), marcado para 24 de janeiro, "muda profundamente" o cenário para as eleições de 2018, caso Lula seja condenado e fique inelegível. Depois de proferir palestra na Associação dos Empregados da Eletrobras, no Rio, Ciro, ao ser informado da data do julgamento, disse que torce para que o ex-presidente seja absolvido pelo tribunal mas que não concorra ao Planalto.
"Estou defendendo que ele não saia [candidato] há muito tempo. A presença dele no processo eleitoral é um desserviço a ele próprio e ao país. A ele próprio porque jamais replicará o extraordinário momento que ele viveu e que fez dele um presidente queridíssimo do povo brasileiro, merecidamente. E de outro lado, na hora em que ele entrar, o país não terá um minuto pra discutir o futuro, será sempre um ódio ou paixão radicalizada ao Lula", disse o ex-ministro.
Ciro disse esperar que Lula, ao não concorrer, chame "todos sobre os quais tenha ascendência, especialmente no setor progressista, para discutir uma alternativa para o Brasil, menos de candidato e mais de projeto nacional de desenvolvimento". "Isso daria a ele um lugar na história", afirmou.
Sempre com a estratégia de morder e assoprar o PT e o ex-presidente, Ciro afirmou que "Lula está com um discurso que é um perigo". "Ele diz: 'Vocês já sabem o que eu já fiz e, se eu voltar lá, vou fazer de novo igual'. Ele pode até acreditar no que está dizendo, mas isso não tem a menor sustentabilidade", criticou.
Ao ser questionado como poderá alçar um voo nacional enfrentando problemas no próprio Estado, o Ceará, onde o PT articula uma aliança para reeleger o seu governador Camilo Santana, mas também o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), Ciro ficou irritado e disse que a questão do palanque estadual seria "futrica". Mesmo contrariado, Ciro afirmou que se o PT fizer essa aliança com o PMDB, ele provavelmente não participará dela. O seu irmão, Cid Gomes, ex-governador, é cotado para concorrer ao Senado. "Se o Camilo Santana, do PT, decidir por essa aliança, ele provavelmente não contará comigo, pelo menos no palanque dele, porque não ando em má companhia", afirmou.
Ciro disse não ter "precedente desse tipo de contradição" em sua carreira. "O Eunício Oliveira foi ministro do Lula, não se elegeria senador se não fosse o apoio do Cid e do Lula e na primeira oportunidade votou pelo golpe, votou pelo impeachment. É razoável que depois que a gente anuncia para o povo brasileiro que há um golpe em marcha pelo país que a gente confraternize com os golpistas? Eu não acho razoável. Como a gente vai explicar isso para o povo?", disse.
Ao mesmo tempo, Ciro vê como positiva a possível filiação do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB) ao PDT, para concorrer ao governo do Rio e lhe servir de palanque. O grupo político de Paes também votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma.
Ciro disse que se eleito poderá revogar facilmente a reforma trabalhista, por ser infraconstitucional, mas disse que no caso da previdenciária, seria mais difícil. Também afirmou que expropriará todos os campos de petróleo do pré-sal que tiverem sido alienados, desde o início do governo de Michel Temer, "em violação à lei de partilha" e "com as devidas indenizações", ainda que pequenas, sublinhou.
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