Não importa qual decisão que o TRF-4 adotará, ela tende a refundar a disputa eleitoral
Paulo Celso Pereira / O Globo
Os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região terão o dever de julgar o expresidente de acordo com o que está nos autos. Mas seja qual for a decisão tomada, ela tende a provocar uma refundação da corrida eleitoral. Não é exagero dizer que o dia 24 de janeiro definirá o ano de 2018, e possivelmente os próximos anos da política brasileira.
O ex-presidente Lula não é apenas o líder de uma disputa presidencial. As candidaturas à sucessão do presidente Michel Temer vêm se delineando tendo o petista como uma bússola: os candidatos são apresentados, desde o primeiro momento, como adversários ou aliados de Lula.
Se o ex-presidente for absolvido, o campo da esquerda tende a se unir em torno daquele que quase indubitavelmente estará no segundo turno. Em uma eleição de recursos escassos, é difícil acreditar que partidos como PCdoB, Psol e mesmo PDT gastem de fato suas energias — e finanças — na luta inglória para crescer sobre uma figura que monopoliza seu campo político.
No centro e na direita, por outro lado, a tendência é que se intensifique imediatamente uma corrida pelo voto útil anti-Lula. Ou seja, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Henrique Meirelles e quem mais aparecer pela frente terão como único caminho se apresentarem como o mais capacitado a derrotar o ex-presidente no segundo turno.
Se Lula, no entanto, for condenado — e consequentemente se tornar inelegível — a disputa eleitoral deve partir para uma pulverização total, lembrando 1989. De acordo com o último Datafolha, divulgado há dez dias, Jair Bolsonaro lideraria a corrida, mas seguido de perto por Marina, e esta por Ciro e Alckmin.
De acordo com a mesma sondagem, 29% dos eleitores votariam no candidato apoiado por Lula. Só que a saída dele tende a fragmentar o campo da esquerda. Ciro Gomes (PDT), Manoela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos e provavelmente outro nome do PT — hoje são cotados Jaques Wagner e Fernando Haddad — lutariam pelo espólio.
Quando montou suas caravanas para propagar a ideia de que sua eventual condenação significaria uma fraude eleitoral, o objetivo de Lula era pressionar os juízes. A única coisa que já conseguiu, de fato, foi dar mais atenção à sua possível saída da disputa eleitoral do que à hipótese de tornar-se o primeiro ex-presidente brasileiro a ir para trás das grades.
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