quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Sem Lula, seis tornam-se competitivos

César Felício | Valor Econômico

SÃO PAULO - O processo sucessório de Michel Temer foi desencadeado em 2 de agosto, quando a Câmara rejeitou o primeiro pedido de autorização para o prosseguimento de denúncia contra o presidente, mas a campanha eleitoral será a mais curta desde 1945. O prazo legal já é de apenas 45 dias, mas a corrida deverá ser ainda mais curta, em função das circunstâncias jurídicas e econômicas.

No front judicial, há incerteza sobre a elegibilidade de Lula, líder nas pesquisas. Isso coloca um cenário com 12 possibilidades concretas de segundo turno, um quadro que inexistia no Brasil desde 1989. Sem o ex-presidente, até seis candidatos poderão ser competitivos, sem que ninguém tenha vaga assegurada no segundo turno. Um deles será o petista que vier a substituir Lula na chapa. Outro seria um dos extremos da atual polarização, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Os demais seriam Marina Silva, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Henrique Meirelles.

Sem Lula, sucessão irá demorar a se definir
O processo sucessório do presidente Michel Temer (MDB) foi desencadeado em 2 de agosto deste ano, quando a Câmara dos Deputados rejeitou o primeiro pedido de autorização para o prosseguimento da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), mas a campanha eleitoral será a mais curta desde 1945. O prazo legal já é apenas de apenas 45 dias, conforme foi definido pela minirreforma eleitoral de 2015, mas a corrida deverá ser ainda menor, em função das circunstâncias jurídicas e econômicas.

No front judicial, a incerteza sobre a elegibilidade do líder nas pesquisas de opinião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deve persistir mesmo após 16 de agosto, data de registro das candidaturas. Caso Lula tenha sentença confirmada no julgamento do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4), que está marcado para 24 de janeiro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só deverá deliberar sobre a aplicação da Lei da Ficha Limpa neste caso em setembro.

No terreno da economia, a dúvida é se haverá tempo hábil para a melhora dos indicadores se converter em aumento de confiança do eleitorado em relação ao governismo. "A única conclusão que se pode chegar hoje é que, na verdade, as escolhas do eleitor estão descoladas da economia", disse o cientista político e consultor Antonio Lavareda, do MCI/Ibope.

Todas as avaliações convergem para a mesma conclusão: apenas entre junho e setembro, já na reta final da campanha, se saberá o efeito no quadro sucessório das decisões jurídicas e da decantação dos efeitos da economia junto à base do eleitorado. Apenas em 1945, ano da eleição do marechal Eurico Gaspar Dutra, houve uma definição de candidaturas tão próxima da data do pleito.

A incerteza em relação à presença de Lula na urna coloca um cenário com doze possibilidades concretas de segundo turno, um quadro que inexistia no Brasil desde 1989. Na visão de Lavareda, sem Lula, até seis candidatos poderão ser competitivos, sem que ninguém tenha vaga garantida no segundo turno.

Um deles será o petista que vier a substituir Lula na chapa. As pesquisas indicam que pelo menos metade do eleitorado inclinado a votar no ex-presidente seguiria uma indicação de voto sua. Um petista portanto, seja Jaques Wagner ou Fernando Haddad, teria um potencial para ficar entre 15% e 20%.

Outro contendor seria um dos extremos da atual polarização, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Sua maior fragilidade é a falta de estrutura partidária. O PSC não irá apoia-lo: já decidiu lançar para a Presidência o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES. A possibilidade de uma migração para o PEN diminuiu. O PSL já anunciou que não quer abrigar o deputado. Mas Bolsonaro ganhou algum lastro ao apontar o economista Paulo Guedes como um possível ministro da Fazenda. A indicação foi vista como tranquilizadora para o presidente de um banco europeu, que falou ao Valor sob a condição do anonimato. "Qualquer coisa é melhor que o Lula e Bolsonaro. Pelo menos não é metido a entender de economia, como o Ciro Gomes (PDT), por exemplo", afirmou o banqueiro.

O patamar que atingiu nas pesquisas, entretanto, de 15% para 20%, é considerado sem gordura. " O teto de Bolsonaro é de 38%. Isto porque pesquisas indicam que 17% da população prefere o autoritarismo à democracia e 21% é indiferente a esta questão.

Em levantamento divulgado no dia 30 pelo Latinobarometro, centro de estudos do Chile que faz pesquisas comparadas em diversos países da América Latina, apenas 43% da população apoia a democracia e somente 13% estão satisfeitos com ela, o menor índice entre 20 países pesquisados. Dos entrevistados, 50% afirmam que confiam nas Forças Armadas e 7% nos partidos políticos. A pesquisa foi feita em agosto.

"Achar que Bolsonaro será asfixiado pela falta de estrutura é 'wishful thinking'. Ele tem domínio das redes sociais, que atingem 40% do eleitorado. Ele está sendo subestimado", comentou Lavareda.

Não é assim que pensam dois economistas muito próximos ao PSDB, que conversaram sob reserva com o Valor. Neste meio, acredita-se no crescimento do terceiro competidor viável em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Para um deles, atuante na equipe econômica que concebeu o Plano Real, as regras aprovadas na recente reforma política forçam o afunilamento entre o petismo e os tucanos. Para outro, próximo ao sistema financeiro, o principal desafio de Alckmin para se afirmar é arrumar o próprio partido. A resistência do PSDB em apoiar a reforma previdenciária provocou uma enorme queima de credibilidade dos tucanos como um contraponto ao petismo, por mais que o formato da campanha o favoreça. Embora o mercado não cobre de Alckmin a definição de um economista que seja um fiador de suas políticas, a sua capacidade de disciplinar o partido ainda está por ser testada.

A outra variante próxima ao governismo que conta com chances é a que passa pelos nomes do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), ou do próprio presidente Michel Temer. Segundo os economistas tucanos, mesmo sem a aprovação da reforma da Previdência, o que talvez afete de maneira negativa a taxa de câmbio e a de juros, é possível imaginar um cenário de crescimento da economia acima de 3% no final de 2018.

Para tucanos, Meirelles potencialmente transmite tranquilidade em um momento de turbulência. Qualquer solução neste sentido, contudo, dependerá de uma redução drástica da rejeição do governo Temer. Não está claro para os observadores se a oscilação de 77% para 74% entre os que consideram o governo ruim e péssimo representa ou não o início de uma tendência.

O outro problema de Meirelles é político. Sua candidatura se viabilizaria se tiver o lastro do MDB, mas dificilmente terá suporte do DEM, segundo avaliação de Rodrigo Maia a investidores. O DEM consegue maior grau de complementaridade nos Estados junto com o PSDB, com quem cultiva uma aliança desde 1994, rompida apenas no pleito de 2002. O partido ensaia um discurso de candidatura própria, no caso a de Maia, mas o parlamentar ainda não se movimentou neste sentido. O PSD, partido de Meirelles, é caudatário dos tucanos na maior parte dos Estados.

Marina Silva (Rede) deve intensificar sua atuação nos próximos meses. Está para se encontrar em breve com economistas fora do seu arco tradicional de alianças, como o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga. A ex-ministra ganha consistência caso consiga fechar um acordo com o PSB, um dos partidos mais divididos do Brasil em relação à eleição presidencial. Marina já externou desânimo com a possibilidade de concorrer no próximo ano se não fechar alianças. Para Antonio Lavareda, o potencial de Marina é o de obter os mesmos 20% que conseguiu em 2010, quando não tinha estrutura partidária, e em 2014, quando herdou o PSB de Eduardo Campos.

Ciro tem como seu principal trunfo o apoio sólido do PDT. Dos presidenciáveis, é um dos raros que está com a vida partidária arrumada e sem pendências na Justiça. Ao longo de 2017 Ciro apostou no eleitorado jovem: foi ativo em redes sociais e percorreu um circuito de palestras em universidades. Sem Lula no cenário, capta parcela importante de seus eleitores. Seu estilo de fazer política, contudo, o prejudica. Mesmo sendo relativamente moderado no plano econômico, é tratado no mercado como se fosse um radical.

Sem Lula no cenário, todas as combinações são possíveis. A distância ente Bolsonaro, Ciro, Marina e Alckmin nas pesquisas é de 11 pontos percentuais, de acordo com pesquisa do Datafolha. A economia pode impulsionar Meirelles e a transferência de votos alavancar um petista. Qualquer segundo turno neste quadro será factível.

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